Título: Gtech usou Buratti para fazer lobby com a Caixa
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 31/08/2005, O País, p. 10

CRISE POLÍTICA: NA CPI DOS BINGOS, GIANELLI DIZ QUE APRESENTOU EX-SECRETÁRIO DE PALOCCI A DIRETORES DA MULTINACIONAL

Advogado que assessorava empresa diz não ter certeza se escolha estava ligada à proximidade de lobista com ministro

BRASÍLIA. O advogado Rogério Buratti foi procurado pela multinacional Gtech do Brasil para fazer lobby da empresa com a a Caixa Econômica Federal. A afirmação foi feito ontem pelo advogado Enrico Gianelli, que prestou depoimento na CPI dos Bingos, no Senado. Buratti, que foi secretário de Governo na gestão do ministro Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP), é investigado pela suspeita de ter praticado tráfico de influência para Gtech no Ministério da Fazenda, que é responsável pela Caixa.

- A Gtech precisava de rostos novos. Era o processo de reaproximação com a Caixa - disse Gianelli, que prestava serviço para a multinacional.

Gianelli disse não saber se a escolha de Buratti tinha relação com a proximidade dele com Palocci. Segundo dados do sigilo telefônico de Buratti, ele fez pelo menos nove ligações para a casa do ministro em 2003 e 2004.

Gianelli é apontado como o elo entre Buratti e a Gtech, que discutia a renovação de um contrato de cerca de R$600 milhões com a Caixa para o processamento de loterias. Diretores da multinacional acusam Buratti de tentar extorquir R$6 milhões da empresa para garantir o fechamento do negócio. Buratti, por sua vez, diz que foi procurado pela Gtech por sua suposta influência no ministério. A empresa, disse, lhe ofereceu uma comissão de até R$15 milhões.

- Não há mais dúvidas de que Buratti foi sondado para atuar como lobista da empresa - disse o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB).

Muito nervoso, Gianelli confirmou ter apresentado Buratti ao diretor de Marketing da Gtech, Marcelo Rovai. Ele alega, no entanto, que sua participação no caso parou por aí:

- A Gtech nunca me reportou nenhum tipo de achaque a ninguém - disse.

Negócio teria sido fechado com ajuda de Waldomiro

Mesmo com acusações de parte a parte, o contrato com a Caixa acabou sendo assinado em 8 de abril de 2003. Por isso, a CPI dos Bingos suspeita que a negociação acabou evoluindo com a ajuda de outro grupo do governo, ligado ao ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz. Waldomiro foi flagrado em um vídeo pedindo propina ao empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira para campanhas eleitorais.

A CPI adiou para hoje o depoimento do chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado. Ele admitiu ter recebido Buratti no prédio do Ministério da Fazenda pelo menos nove vezes desde o início do governo Lula. Juscelino também terá que responder à denúncia de que operava um esquema de financiamento ilegal de campanhas do PT em Ribeirão Preto.

Evasivas de um laranja

Batista deixa perguntas sem resposta

BRASÍLIA. Munido de um hábeas-corpus, o empresário José Carlos Batista, dono da Guaranhuns Empreendimentos, deixou a maioria das perguntas sem resposta, mas reforçou a certeza dos parlamentares de que é apenas um laranja no esquema de financiamento ilegal que a CPI suspeita ser a fonte do pagamento do mensalão. Só no fim do depoimento a CPI conseguiu obter de Batista a informação de que já em 2002 ele movimentava milhões de reais destinados a políticos.

Batista confessou que, entre fevereiro e novembro de 2002, passaram R$9 milhões por uma conta que possui com a mulher e que esse dinheiro irrigou campanhas eleitorais. Batista não quis revelar os nomes dos beneficiados.

- Eu vou me calar - disse.

Outra informação arrancada pela CPI é a de que as relações financeiras de Marcos Valério com o PT podem ter começado logo depois da campanha eleitoral, em novembro de 2002. Foi nesta data que a Guaranhuns firmou um contrato com Valério. Ele negou, contudo, ter enviado recursos para o exterior. Segundo Batista, a operação deveria pagar dívidas de campanha do PT e do PL. O empresário, apesar do acerto, disse não conhecer Marcos Valério e tampouco os dirigentes do PT e do PL.

- Não sou político, mas sinto-me réu político por ter sido usado pelo PT em coligação com o PL - afirmou Batista.