Título: IGP-M TEM MAIOR CICLO DE DEFLAÇÃO DE SUA HISTÓRIA
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 31/08/2005, Economia, p. 23

No quarto mês seguido de taxa negativa, índice variou -0,65% em agosto. Economistas não descartam novo recuo

Pelo quarto mês consecutivo, o IGP-M - índice usado no reajuste de contratos de aluguel e das tarifas de energia elétrica - apresentou variação negativa. Em agosto, a taxa ficou em -0,65%, contra -0,34% em julho, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Nunca se viu um ciclo tão longo de deflação na história do IGP-M, que começou a ser apurado em 1989. Economistas, aliás, já não descartam a possibilidade de em setembro o nível geral dos preços voltar a cair.

- A deflação do IGP-M em agosto foi mais forte do que no mês passado porque houve desaceleração nos seus três componentes (índices do atacado, consumidor e construção). Foi a primeira vez, nesta série de deflação, que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apresenta taxa negativa - disse o economista Salomão Quadros, da FGV.

Segundo especialistas, os maiores responsáveis pela queda do IGP-M são o câmbio e o clima. Eles tiveram efeito direto no Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% da taxa geral. A queda foi de 0,88% - uma taxa 0,23 ponto percentual inferior ao que seu viu em julho. Nessa categoria, os destaques são: alimentos in natura (-5,43%) e processados (-1,22), e combustíveis e lubrificantes para a produção (-0,88%).

- Para se ter idéia, o grupo ferro, aço e derivados registrou queda de 2,76%, o que vem a ser a maior queda da história dos IGPs - disse Quadros.

Com deflação, economista aposta em corte de juros

Quadros explica que a queda de preços do atacado de novo chegou ao varejo, beneficiando o consumidor. No IPC, responsável por 30% do índice geral, a deflação foi de 0,32% em agosto. No mês passado, era de 0,12%. Dos 21 itens de alimentação, 16 apresentaram taxas negativas e 12, desaceleração. Alguns destaques desse grupo são as hortaliças e legumes (-5,65%) e as frutas (-4,44%).

- Nessa época, carne bovina estaria com preços mais altos. O que se vê é variação de -0,87%. O óleo de soja registrou taxa -2,43%, o que contribuiu para a desaceleração de óleos de milho (-1,21%) e girassol (-0,75%) - disse o economista da FGV André Braz.

Na opinião do economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, as perspectivas são positivas. É possível, segundo ele, nova deflação - ainda que menor - em setembro. E, no acumulado de 2005, a taxa pode ficar em torno de 2% (se não houver alta de combustível) ou de 3% (com reajuste). No acumulado deste ano até agosto, a variação do IGP-M é de apenas 0,75%. Trata-se da menor taxa acumulada nos primeiros oito meses do ano de toda a série histórica do índice.

- Qualquer um dos dois cenários (com ou sem aumento de combustível) já é um ótimo resultado - disse Cunha, descartando qualquer recessão.

Diante dos números positivos do IGP-M, Marco Antônio Franklin, da Plenus Gestão de Recursos, prevê um IPCA de agosto em torno de zero.

- Depois de quatro altas consecutivas, essa política do Banco Central (BC) quebrou a espinha de inércia da inflação. Com isso, os preços de administrados em 2006 farão uma pressão menor.

O economista João Gomes, do Instituto Fecomércio-RJ, diz que o longo ciclo de deflação do IGP-M dá mais argumentos para que o BC reduza a Taxa Selic (hoje em 19,75% ao ano):

- Há espaço para a taxa de juros cair 0,5 ponto percentual. Os indicadores apontam para esse caminho. Não há pressão para alta de preços.

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) - responsável por 10% do IGP-M - variou 0,05%, contra 0,65% em julho. Algumas quedas no setor foram aço (-0,75%), tubos (-1,11%) e metais para instalação hidráulica (-0,30%).

- Um dos destaques é o preço do cimento pago pelo construtor, que apresentou no Rio em agosto variação negativa de 9,47% - disse Quadros.