Título: DONO DE CORRETORA ENTREGA AUDITORIA À CPI DOS CORREIOS
Autor: Ricardo Galhardo/Soraya Aggege e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/09/2005, O País, p. 11

Lista relaciona 89 pessoas e empresas que receberam dinheiro

BRASÍLIA. O dono da corretora Bônus-Banval, Enivaldo Quadrado, entregou ontem à CPI dos Correios o resultado de uma auditoria nas operações que realizou no mercado financeiro para o empresário Marcos Valério, em parceria com a Natimar Negócios e Intermediações. Entre os documentos está uma lista com 89 pessoas jurídicas e físicas que receberam R$9,9 milhões entre janeiro e setembro de 2004, mas Quadrado não soube informar quais delas movimentaram recursos das operações de Valério nem se havia políticos. Na lista, segundo levantamento do deputado Silvio Torres (PSDB-SP), consta o nome de uma filha e de uma secretária do deputado José Janene (PP-PR). Daniele Kemmer Janene teria recebido R$15 mil e a secretária Rosa Alice Valente, R$113,3 mil.

Na relação há ainda três bandas que receberam dinheiro em setembro de 2004, período eleitoral.

No depoimento à CPI, Quadrado desmentiu Valério, afirmando que as operações foram de R$6,5 milhões e não de R$3,5 milhões. Segundo Quadrado, a Bônus-Banval, em parceria com a Natimar, realizou investimentos na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), principalmente em ouro e dólar futuro, para as empresas 2 S Participações e Tolentino e Melo Associados, ligadas a Valério. Ele afirmou que as aplicações eram decididas entre Valério e a Natimar, cujo principal sócio é o argentino Carlos Alberto Quaglia.

Deputado dá soco na mesa

Ao ser questionado pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), o empresário admitiu que fez depósitos por ordem da Natimar, sem a devida assinatura do responsável pela empresa. Entre os documentos, Faria de Sá identificou pelo menos 70 sem assinatura.

- Infelizmente foi um descuido - afirmou.

O deputado estranhou o fato de somente as autorizações no período das aplicações de Valério - segundo Quadrado, entre abril e setembro de 2004 - estarem assinadas.

- Foi coincidência - disse Quadrado, irritando o parlamentar, que esmurrou a mesa.

Durante o depoimento, Quadrado fez questão de desmentir declarações de Valério e do doleiro Toninho da Barcelona, condenado a 25 anos de prisão. Ele negou que os R$3 milhões de diferença nas operações financeiras tenham sido um empréstimo da 2 S para a Bônus-Banval, como disse Valério. Afirmou também que foi apresentado ao publicitário mineiro pelo deputado José Janene (PP-PR), líder do partido na Câmara, e não pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, com quem teria se encontrado apenas uma vez no Aeroporto de Congonhas, almoçando com Marcos Valério.