Título: Juscelino: Barquete tentou discutir contrato com Palocci
Autor: Jaílton de Carvalho/Evandro Spinelli
Fonte: O Globo, 01/09/2005, O País, p. 12

Objetivo seria fechar contrato da Gtech com a Caixa

BRASÍLIA e RIBEIRÃO PRETO, SP. O chefe de gabinete do Ministério da Fazenda, Juscelino Dourado, disse ontem, em depoimento na CPI dos Bingos, que o ex-assessor da presidência da Caixa Ralf Barquete tentou marcar audiência com o ministro Antonio Palocci, no primeiro semestre de 2003, período da renovação do contrato de R$650 milhões do banco com a Gtech, empresa de serviços lotéricos.

Segundo Juscelino, Barquete disse, de forma genérica, que queria conversar com o ministro sobre assuntos relativos à Caixa. Pela versão do chefe de gabinete, Palocci rejeitou o pedido e sugeriu que Barquete tratasse da questão com seus superiores na própria Caixa.

As declarações de Juscelino reforçaram as dúvidas sobre a suposta influência de Barquete e do advogado Rogério Buratti na prorrogação do contrato da Caixa com a Gtech. Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, Buratti disse que Barquete teria se incumbido de apresentar a Palocci uma proposta de renovação do contrato. Por essa proposta, a empresa pagaria de R$500 mil a R$16 milhões ao grupo de Buratti, dependendo da ampliação do prazo do contrato. O dinheiro seria destinado ao PT.

Juscelino disse ainda que nunca incluiu o caso Gtech na agenda de Palocci, mas admitiu que o ministro pode ter tratado do assunto com o presidente da Caixa, Jorge Mattoso.

- Não acredito que o ministro não soubesse do contrato. Esse era o maior contrato da Caixa, que é subordinada ao Ministério da Fazenda - disse o presidente da CPI , Efraim Moraes (PFL-PB).

O senador disse que vai por em votação o requerimento de convocação de Palocci em duas semanas. Mas não há consenso na comissão. O relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) considera cedo para chamar o ministro.

No depoimento, o chefe de gabinete disse que sua evolução patrimonial é compatível com seus rendimentos mensais de R$11,5 mil. Juscelino também confirmou que recebeu boleto de cobrança de dívidas da campanha eleitoral de 2002 com a Villimpress Indústria e Comércio Gráficos, conforme divulgou O GLOBO. Mas negou que o débito tenha sido quitado pela Leão Leão. Ele disse que nunca recebeu recursos da empresa.

Entre as notas fiscais apreendidas anteontem na Villimpress está uma em nome de Palocci. Os documentos foram apreendidos porque o Ministério Público suspeita que as campanhas eleitorais de Palocci, em 2000, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foram financiadas irregularmente pela Leão Leão.

Nota apreendida foi emitida em nome de Palocci

Uma das notas apreendidas foi emitida em nome de Palocci no dia 27 de novembro de 2000, fora, portanto, do período eleitoral. Nessa data, Palocci já tinha sido eleito prefeito de Ribeirão Preto. Consta no documento que a gráfica fez panfletos e o valor total é de R$12.451,94. Os promotores querem saber agora se esse serviço foi efetivamente realizado ou se se trata de uma dívida de campanha. Não se sabe ainda sequer se a realização dos serviços foi registrada na prestação de contas de Palocci.

Juscelino negou que Palocci tenha recebido R$50 mil por mês da Leão Leão, em seu segundo mandato na prefeitura de Ribeirão Preto, de 2001 a 2002.

- Convivo há 13 anos com o ministro e não acredito que isso (o pagamento de mesada) tenha acontecido - disse ele.

COLABOROU Evandro Spinelli, especial para O GLOBO

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Legenda da foto: JUSCELINO, AO depor na CPI