Título: NANOTECNOLOGIA CONTRA A TUBERCULOSE E A AIDS
Autor: Leonardo Valente
Fonte: O Globo, 31/08/2005, Ciência e Vida, p. 32

Pesquisadores brasileiros e japoneses usam a tecnologia microscópica para produzir vacinas

A nanotecnologia não é mais o futuro da pesquisa médica, como diziam os especialistas. Avanços importantes a partir do uso desta tecnologia já estão em fase de testes e alguns deles foram divulgados ontem no encerramento do Simpósio Internacional Terapias Avançadas, que aconteceu no Rio. No Brasil, uma nova vacina contra a tuberculose que usa recursos nanotecnológicos promete tratar pacientes com resistência aos atuais medicamentos e diminuir pela metade o tempo de tratamento dos demais doentes. Já pesquisadores japoneses estão usando nanoesferas (minúsculas partículas produzidas artificialmente em laboratório) para produzir uma futura vacina contra a Aids.

Testes contra tuberculose começam em janeiro

A vacina terapêutica de DNA (que usa material genético da bactéria Mycobacterium tuberculosis, causadora da tuberculose) está sendo desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com outras instituições, e também usa nanoesferas em sua composição. Os testes clínicos em pacientes devem começar em janeiro e durar um ano. De acordo com Celio Lopes Silva, da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, coordenador dos estudos, testes preliminares indicam que sua eficácia pode diminuir o tempo de tratamento de seis meses para cerca de três.

- Ainda precisamos confirmar essa projeção, mas já temos fortes indícios de redução do tempo de tratamento pela metade. Um dos grandes problemas da terapia da tuberculose é que seu tratamento prolongado provoca um grande número de desistências - disse ele.

Os testes iniciais, no entanto, serão feitos em pacientes que já adquiriram resistência às formas de tratamento.

- É importante comprovar que a vacina é útil para pacientes que adquiriram resistência aos medicamentos pois isso certamente diminuirá o índice de mortalidade - explicou.

A comercialização, no entanto, ainda não tem prazo e depende de negociações com a indústria farmacêutica. A tuberculose mata cerca de três milhões de pessoas no mundo a cada ano. No Brasil, 60 milhões de pessoas estão infectadas e cerca de 10% desenvolvem a doença.

As nanoesferas também são a esperança para uma vacina contra a Aids. Pesquisadores da Universidade de Kagoshima, no Japão, estão desenvolvendo partículas microscópicas com receptores químicos para que identifiquem o vírus HIV-1 e facilitem sua destruição pelo sistema imunológico. Testes feitos em macacos, segundo os pesquisadores, tiveram resultados positivos. As nanoesferas, por serem biodegradáveis, não produziriam efeitos tóxicos. A pesquisa, no entanto, ainda está em desenvolvimento.