Título: PNBE pede a Lula que diga o que sabe da corrupção
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 01/09/2005, O País, p. 13

'Temos a mais absoluta certeza de que Vossa Excelência tem a informação crítica e essencial', diz carta de empresários

SÃO PAULO. Em carta aberta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a direção do Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) pediu ontem que ele faça novo pronunciamento para falar tudo que sabe sobre as denúncias de corrupção no governo. O PNBE alegou que o presidente, "ainda que negue", tem o "conhecimento privilegiado de um comandante".

"Temos a mais absoluta certeza de que Vossa Excelência tem a informação crítica e essencial para não somente revelar as linhas mestras e as motivações que levaram a essa gravíssima situação, como também para indicar os caminhos para a solução dessas fraquezas, e as mudanças necessárias para eliminar de vez toda a vulnerabilidade do sistema e permitir que o país retome a jornada que o levará de volta ao seu destino histórico", diz o documento.

Entidade apoiou Lula na eleição de 2002

O PNBE, que apoiou a eleição de Lula em 2002, diz que o eleitor está perplexo. "Ao se defrontar com os acontecimentos inicialmente confusos e paradoxais, mas agora cada vez mais evidentes e assustadores, e frustrando-se ao esperar, atento às suas palavras, que tudo pudesse ser esclarecido a cada novo pronunciamento, o povo sente sua alma se apertar", diz a carta. "Suas afirmações do mais absoluto desconhecimento de fatos tão gritantes e impossíveis de esconder aumentam a perplexidade e a dúvida desse povo, senhor presidente, que agora lhe pede, lhe solicita, que resgate sua alma, que salve seu futuro, que lhe devolva a esperança."

O texto é assinado pelo coordenador-geral do PNBE, Percival Maricato, e pelo segundo coordenador-geral, Lívio Giosa. Lembra que Lula já foi recebido pela entidade para discutir "os caminhos da tão sonhada justiça social e o futuro do país" e que hoje está no meio de uma "grave crise política que põe em risco esse futuro".

"Falando por nós, como representantes de uma modesta fatia do empresariado mas, sem risco de erro, falando também como representantes de uma larga faixa dos cidadãos de bem, podemos dizer, senhor presidente, que o povo brasileiro está perplexo e acima de tudo paralisado, se não em suas atividades do cotidiano que prosseguem em busca da subsistência, paralisado em algo muito mais fundamental, muito mais íntimo e sagrado, paralisado em sua alma."

O jurista e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, articulador do movimento Da Indignação à Ação, lançado ontem em São Paulo com apoio de 20 entidades civis, fez duras críticas ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), por defender a inexistência do mensalão e punições brandas a políticos que usaram caixa dois.

Para Reale Júnior, sem apuração das denúncias e punição dos culpados, o desencanto com a democracia será grande:

- É altamente preocupante a declaração do presidente da Câmara, que antecipa juízo de valor e sentença. Se não houver apuração e punição, a desilusão, o desencanto da população com a democracia será grande.

Ex-ministro da Justiça endossa críticas

José Gregori, ministro da Justiça do governo Fernando Henrique, endossou as críticas a Severino. Segundo ele, a apuração das denúncias e a punição dos responsáveis não podem se transformar em minestrone:

- Isso pode virar minestrone, aquela sopa italiana que você põe uma porção de ingredientes e as coisas ficam confusas.

Lançado ontem, o movimento Da Indignação à Ação propõe a aprovação de uma reforma política e eleitoral que entre em vigor já em 2006 e cobra rigor na apuração das denúncias e a punição de parlamentares envolvidos em esquemas de corrupção.

Consciente de que é muito curto o prazo legal para que a reforma seja aprovada, de um ano antes da eleição, Reale Júnior defende quatro pontos básicos, enquanto o movimento promoverá audiências públicas, a partir da próxima segunda-feira, para debater as idéias: fidelidade partidária, voto distrital misto, criminalização do pagamento de "cabos eleitorais", segundo ele prefeitos e vereadores, que vendem seu apoio político a candidatos a deputado, a governador, a presidente, e o financiamento público das campanhas