Título: BIRD: MAIS INFRA-ESTRUTURA PARA REDUZIR POBREZA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/09/2005, Economia, p. 25

Brasil terá que investir ao ano no mínimo 2,9% do PIB até 2025 para registrar crescimento adequado, diz Banco Mundial

WASHINGTON. O governo não conseguirá reduzir significativamente a pobreza no Brasil enquanto não mantiver um sólido e constante investimento em infra-estrutura, além de aplicar melhor as verbas designadas ao setor social. O alerta foi feito ontem pelo Banco Mundial (Bird) durante a divulgação de um informe contendo um diagnóstico sobre a infra-estrutura na América Latina, comparando os resultados da região com os da Ásia.

Se os países latinos não investirem, conjuntamente, de US$70 bilhões a US$100 bilhões ao ano nesse setor, eles ficarão mais atrasados do que já estão em relação aos asiáticos. E a miséria tenderá a se perpetuar:

- Cuidar apenas do setor social não vai reduzir a pobreza. Sem uma boa infra-estrutura não é possível ter um crescimento econômico suficiente, não é possível criar um número adequado de empregos, e muito menos competir no mercado mundial - disse a vice-presidente do Bird para a América Latina, Pamela Cox.

O estudo do banco mostrou que o Brasil, em particular, e a região, no geral, estão atrasados nada menos que duas décadas. Os índices são amargos. Para alcançar o nível de infra-estrutura que tem hoje a Costa Rica - o melhor da América Latina - o Brasil terá de investir no mínimo o equivalente a 2,9% do seu Produto Interno Bruto (PIB), anualmente, ao longo dos próximos 20 anos. Atualmente, investe menos de 1%.

O desafio é ainda maior quando a comparação leva em conta os tigres asiáticos. Para chegar à situação atual da Coréia e ter chance de competir no mercado mundial com a China, o Brasil terá de aplicar pelo menos 4,4% do seu PIB em projetos de infra-estrutura, todos os anos, até 2025.

- Isso diz respeito apenas às obras necessárias para que a economia cresça em ritmo suficiente para dar ao país condições de competir no mercado global e, ao mesmo tempo, aliviar a pobreza. Mas é preciso pensar também na manutenção da infra-estrutura, que é essencial e tem um custo maior: os investimentos necessários passam a ser equivalentes a entre 5% e 7% do PIB - disse Cox.

A economista-chefe do Bird para Infra-estrutura na América Latina, Marianne Fay, indicou que, no caso do Brasil, trata-se apenas de estabelecer prioridades na hora de planejar o orçamento. Segundo ela, seria mais uma questão de gastar melhor o dinheiro disponível:

- A situação fiscal no Brasil hoje tem espaço suficiente para que haja mais projetos de infra-estrutura. O governo tem como aumentar os investimentos nesse setor e, ao mesmo tempo, melhorar as condições para atrair as empresas privadas aos projetos. O essencial, a esta altura, é definir as prioridades - disse ela.

Estudo afirma que Brasil fez corte errado de gastos

O informe indica que os dois últimos governos brasileiros optaram por uma fórmula equivocada quando se viram obrigados a promover um ajuste fiscal: reduziram os investimentos em infra-estrutura, quando deveriam ter feito cortes em outras áreas.

"Politicamente era mais fácil cortar em infra-estrutura do que os gastos em salários e pensões. O Brasil, onde vimos o caso mais extremo, na verdade aumentou os seus gastos (em salários e pensões) ao mesmo tempo em que cortou os investimentos, em especial em infra-estrutura", diz um trecho.

INCLUI QUADRO: OS NÚMEROS DO ATRASO