Título: EUA LIBERAM RESERVAS E COTAÇÃO DO PETRÓLEO CAI
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Fonte: O Globo, 01/09/2005, Economia, p. 26

Barril em Nova York recua para US$68,94. Para analistas, no entanto, ainda há pressão sobre os preços

NOVA YORK e RIO. O preço do petróleo em Nova York recuou ontem para abaixo da casa dos US$70, depois que o governo americano decidiu flexibilizar temporariamente as regras de uso das reservas estratégicas, que somam 700 milhões de barris. O objetivo é suprir a lacuna no fornecimento do combustível, provocada pelo fechamento de refinarias e plataformas por causa da passagem do furacão Katrina pelo país.

Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês), o preço do barril do tipo leve americano recuou 1,3%, para US$68,94. Na véspera, sua cotação bateu recorde ao ser negociado a US$70,85 durante o pregão. Em Londres, o barril do tipo Brent, negociado na Bolsa Internacional de Petróleo (IPE, na sigla em inglês), perdeu 0,8%, fechando a US$67,02.

A atuação do governo americano aliviou a tensão do mercado ao sinalizar que a Casa Branca pretende atuar para minimizar o impacto da passagem de Katrina pelo país. No entanto, para vários analistas, há muitos elementos pressionando os preços dos combustíveis, que deve subir nos próximos dias.

Três dias depois de o furacão Katrina mutilar boa parte da infra-estrutura petrolífera americana, o pior cenário previsto rapidamente começa a se desenhar: os preços estão em patamares estratosféricos, postos não estão sendo abastecidos e, em várias partes do país, motoristas estão formando filas para encher os tanques de seus veículos. Os preços da gasolina no mercado futuro saltaram 50% por causa do furacão.

Falta de capacidade de refino preocupa analistas

A tormenta, que afundou Nova Orleans, também paralisou o setor energético americano ao longo de vários estados. Em Louisiana, Mississippi e Alabama, usinas elétricas foram desligadas, refinarias ficaram completamente alagadas e várias plataformas submergiram.

Analistas estimam que vai demorar meses até que o país normalize sua produção petrolífera. Os reparos nas refinarias e plataformas são complexos e caros. Nem mesmo a promessa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de elevar a produção de petróleo deve aliviar a pressão sobre os preços:

- O problema não é o petróleo - disse Deborah White, analista sênior da SG Commodities. - A questão é qual a capacidade de refino de que dispomos no momento.

- A curto prazo, o efeito (do uso das reservas estratégicas) será basicamente simbólico - disse Antione Halff, analista do setor de energia do Eurasia Group. - Depois, os preços devem subir, e isso deve afetar países produtores e consumidores em todo o mundo de maneira contrastante.

Anúncio do PIB alivia mercados no Brasil

No Brasil, pela manhã, a alta do petróleo levou nervosismo ao mercado financeiro. No entanto, o recuo das cotações da commodity ao longo do dia, e o bom desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços do país) no segundo trimestre, divulgado ontem pelo IBGE, ajudaram o dólar a fechar em queda de 1,13%, cotado a R$2,358. O risco-Brasil recuou 0,72%, para 412 pontos centesimais, e o Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, subiu 0,42%, para 119,25% do valor de face. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou alta de 1,6%.

A DESTRUIÇÃO DO KATRINA, nas páginas 30, 31 e 32

Legenda da foto: A AMERICANA Nicole Ward brinca com a filha enquanto espera sua vez na longa fila de um posto no Mississippi