Título: ECONOMIA FERIDA PELO MEDO
Autor:
Fonte: O Globo, 31/08/2005, Especial, p. 1

Indústrias podem deixar distrito da Pavuna e 4 mil lojas fecham no Rio

Akern 0.001 violência que amedronta a população também atinge em cheio a economia do estado. O presidente do Conselho de Varejo da Associação Comercial do Rio (ACRJ), Daniel De Plá, estima que quatro mil lojas próximas a áreas de risco tenham fechado as portas. Diante da dura realidade, o presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio-RJ), Orlando Diniz, lembra que em 2004 as 350 mil empresas de bens e serviços do estado gastaram R$1,8 bilhão (1,73% de seu faturamento) com segurança.

Também grave é a situação de indústrias. Coca-Cola, Kibon, Poesi, Gillette e Gastal são exemplos de algumas que desativaram unidades em áreas de conflito. Vice-presidente da Firjan, João Lagoeiro Barbará se reuniu recentemente com empresários do distrito da Pavuna, onde se concentram 72 indústrias, que recolhem R$1,5 bilhão/ano de ICMS. Na pauta, a intenção de parte delas de se mudar para São Paulo.

- Essas indústrias estão na República do Alemão (Complexo do Alemão). Estão sendo muito afetadas pela violência - conta Barbará.

Pesquisa do Sesi revelou que, para os operários, o principal problema é a falta de segurança. Diante da constatação, a Firjan, a Secretaria Nacional de Segurança Pública e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) realizaram um estudo nacional, que resultou em providências, que começaram a ser implementadas há dois anos. Elas são voltadas para cinco temas prioritários: inteligência e comunicação; formação policial; ampliação de vagas nas carceragens; reforma da legislação criminal; e ordem urbana.

- Enquanto não se resolve essas questões não se acaba com o crime - ressalta Barbará.

Na Faixa de Gaza, o retrato do abandono

É na chamada Faixa de Gaza (com 33 bairros, se estendendo do Caju à Pavuna e cortada por vias importantes como a Avenida Brasil e as linhas Vermelha e Amarela) onde se concentram a maioria das indústrias, das lojas e dos galpões fechados. E até invadidos, como a CCPL e a Borgauto. O Mercado São Sebastião é mais um exemplo da deterioração da região: cerca de mil galpões foram fechados, ruas e calçadas foram invadidas e já há barracos em frente a lojas desativadas.

Daniel De Plá lembra que o comércio de bairros como Vila Isabel, Rio Comprido e Tijuca também vem sendo afetado pela insegurança. Mesmo Ipanema não passa incólume. De Plá revela que um bar, na esquina das ruas Visconde de Pirajá e Jangadeiros, fechou há três anos, após seguidos assaltos. Desde então, o espaço, vizinho ao Morro do Cantagalo, espera por interessados em alugá-lo.

- Quando uma loja é assaltada mais de uma vez, não se consegue renovar o seguro. No terceiro ou no quarto assalto, o comerciante não tem alternativa senão acabar com o negócio - diz o representante da ACRJ.

Segundo o diretor-superintendente da Câmara de Comércio Americana para o Brasil, Sérgio Raposo, para atrair investimentos tão importante quanto os estados oferecerem incentivos fiscais é melhorar a percepção da segurança dos investidores:

- Todo investimento traz com ele pessoas. A decisão de instalar uma empresa leva em conta a segurança para executivos e suas famílias.

Uma das sugestões de Raposo para melhorar a percepção de segurança é o governo facilitar a contratação de jovens de 16 a 21 anos.

- Temos que oferecer trabalho aos jovens e secar a fonte alimentadora do tráfico. É nos jovens que o tráfico busca sua mão-de-obra - diz Raposo, que defende ainda mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente, facilitando o emprego de menores.

Um dos casos mais graves envolvendo executivos de empresas estrangeiras ocorreu em 15 maio de 2002, quando Marcelo de Morais, de 31 anos, diretor do clube de compras Sam's Club, que faz parte da rede de supermercados Wall-Mart Brasil, foi morto numa tentativa de assalto, no acesso da Linha Amarela para a Linha Vermelha.

Em 2003, a Texaco passou a adotar medidas para proteger seus funcionários: quando um executivo vem à cidade, é escoltado por seguranças desde o Aeroporto Tom Jobim. No mesmo ano, num comunicado distribuído a mais de 260 mil funcionários em todo o mundo, o Citibank recomendou que evitassem o Tom Jobim e as vias expressas.

"Quando uma loja é assaltada mais de uma vez, não se renova o seguro"

DANIEL DE PLÁ

Associação Comercial do Rio