Título: BOAS IDÉIAS PARA OS DESAFIOS DA SEGURANÇA
Autor:
Fonte: O Globo, 31/08/2005, Especial, p. 1

Pesquisador sugere o controle de armas e do uso de bebida alcoólica

Controle de armas e do uso de bebida alcoólica nas áreas de maior criminalidade, toque de recolher para jovens e melhoria da polícia. Estas são algumas das sugestões para uma política de segurança pública de longo prazo no Rio de Janeiro, apresentadas ontem pelo sociólogo Gláucio Soares, pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), durante o painel "Experiências internacionais e desafios na área de segurança pública", no seminário "Revitalização do Rio". As medidas foram sugeridas a partir de várias experiências nacionais e internacionais de sucesso no combate à violência.

- Se tivermos uma política de segurança parecida com as que foram adotadas em Bogotá ou Diadema, podemos reduzir as mortes violentas em um terço - acredita o sociólogo.

O pesquisador sabe da dificuldade de se implantar uma lei seca. Mas, ao mesmo tempo, lembra que a interrupção da política contra o consumo de álcool na Rússia, no início dos anos 90, fez o número de homicídios e suicídios subir. A lei seca, o controle de armas e o toque de recolher para jovens foram algumas das medidas tomadas pelo governo de Cáli, na Colômbia. Segundo o pesquisador, elas levaram à diminuição do número de homicídios em 34% do primeiro semestre de 2004 para o mesmo período de 2005.

Outra boa experiência em segurança citada pelo sociólogo foi a política de tolerância zero de Nova Orleans, nos Estados Unidos. Lá, foram implantados projetos de combate a gangues e houve investimento na polícia para capacitá-la a produzir provas técnicas para incriminar culpados.

Sociólogo: políticas têm de ser mantidas

O pesquisador destacou em todas as experiências positivas um ponto em comum: a continuidade das políticas públicas. Na opinião do sociólogo, o maior problema hoje no Brasil é a falta de continuidade nas políticas, principalmente nas de segurança. Na cidade de Bogotá, por exemplo, onde as medidas foram mantidas, o número de homicídios caiu de 3.500 por ano em 1994 para 1.500 em 2004.

Gláucio destacou o quanto o Brasil ainda é um país violento, com taxas de homicídio maiores que as de vizinhos como Chile e Argentina. Hoje, acontece no país uma média de 50 mil homicídios por ano. Isso significa uma taxa de 30 homicídios por cada cem mil habitantes.

Segundo o pesquisador, desde 1979 foram registrados 2,5 milhões de mortes violentas no país. Ele imaginou um cenário macabro para mostrar a violência no Brasil:

- Se colocássemos todos os corpos destas vítimas deitados em fila, formaríamos uma procissão saindo de Belém, atravessando o Brasil até Porto Alegre e voltando, a meio caminho entre São Paulo e Rio.

Para mudar este quadro, o sociólogo destaca a importância da mobilização da sociedade. O programa Paz no Trânsito, que diminuiu o número de mortes em acidentes no Distrito Federal, foi citado como exemplo. Ainda segundo o pesquisador, a segurança nas estradas depende do desenvolvimento econômico e da cultura cívica. Por isso, as capitais têm taxas mais baixas de acidentes com mortes e as 12 taxas mais altas são de cidades do Norte e do Nordeste.

- A violência não é um problema só do governo. Cada um pode fazer a sua parte - afirmou Gláucio.

Voltando-se para a segurança no Rio, Gláucio apontou pontos positivos e negativos. Ele elogiou a transparência das estatísticas de violência, mas criticou o treinamento dos policiais.