Título: AS EXPERIÊNCIAS QUE DERAM CERTO
Autor:
Fonte: O Globo, 31/08/2005, Especial, p. 1

Projetos reduzem insegurança em Nova York, Diadema e Belo Horizonte

Três cidades mostraram que é possível reverter a curva ascendente da violência. Com a política de "Tolerância Zero", implantada em Nova York pelo prefeito Rudolph Giuliani, pequenos e grandes crimes passaram a ser reprimidos com o mesmo rigor. Nas favelas com os maiores índices de assassinatos de Belo Horizonte, Minas Gerais, foi criado o programa Fica Vivo. Já a cidade paulista de Diadema optou por instituir a Lei Seca, com o fechamento de bares que vendem bebidas alcoólicas diariamente das 23h às 6h.

Giuliani governou a maior metrópole americana com mão de ferro, de 1994 a 2001. Desde então, não só o número de homicídios como o de outros crimes - como roubos, furtos e estupros - vem despencando.

Nas seis comunidades violentas onde foi implantado até agora o Fica Vivo, a taxa de homicídios já é menor do que a da capital mineira, que foi de 42 por cem mil habitantes em 2004 e este ano está em 35,37 por cem mil.

No último dia 15 de julho, Diadema comemorou três anos da criação da Lei Seca, com a redução da quantidade de homicídios a quase um terço: de 374 assassinatos em 1999 (ano mais violento na cidade) para 129 em 2004.

Diadema: do 1º para o 18º lugar no 'ranking' da violência

Com 400 mil habitantes, 12.496 por quilômetro quadrado, Diadema alcançou o topo do ranking de violência das cidades de São Paulo, em 1999, 2000 e 2001. Em 1999, a taxa de homicídios chegou a 102,82 por cem mil habitantes. Naquele ano, ocorreram 41 homicídios só em junho. Em 2004, a taxa caiu para 34,58/cem mil, fazendo com que Diadema passasse para 18º lugar no ranking paulista. E a secretária de Defesa Social do município, Regina Miki, está ainda mais otimista em relação a este ano:

- Nossa expectativa é que o número de homicídios caia mais em 2005. Nos primeiros seis meses de 2005 foram registrados 50 assassinatos. Em maio, foram quatro e, em junho, um - conta a secretária.

Foram necessários dez meses e mais de cem audiências públicas para a prefeitura de Diadema conseguir aprovar a Lei 2.107, que restringiu a abertura dos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas de madrugada. Na época, foi constatado que 60% dos homicídios aconteciam em áreas próximas a bares.

Além da Lei Seca, Diadema desenvolve outras ações para a prevenção do crime. Entre elas um sistema de monitoramento por câmeras de segurança, o programa Anjos do Quarteirão (em que guardas municipais convivem com a população e os comerciantes nos centros de bairros) e a Operação Centopéia (de fiscalização da documentação de motos).

Belo Horizonte: meta é levar Fica Vivo para 21 comunidades

Idealizado pelo Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais e desenvolvido em parceria com o governo mineiro, o programa Fica Vivo começou em fevereiro de 2001, com um projeto piloto no Morro das Pedras, a favela mais violenta de Belo Horizonte, onde vivem 23 mil pessoas.

- Em 2001, no Morro das Pedras, aconteciam de quatro a cinco homicídios por mês. O impacto inicial, nos primeiros 90 dias após a implantação do programa, foi uma queda de 47% dos homicídios. Hoje, passam-se até três meses sem ter um assassinato no local - conta Cláudio Beato, coordenador do Crisp.

A meta do governo é levar o Fica Vivo para 21 áreas. Ele está em fase de implantação em Nova Contagem e em todo o município de Uberlândia. O programa não é uma fórmula pronta. Cada comunidade tem de ser analisada. Mas, de um modo geral, prevê a formação de dois grandes grupos: o de estratégia, que realiza uma ação policial, iniciada com a prisão dos principais chefes de gangues das comunidades, e o de prevenção, que realiza ações sociais, voltadas principalmente para ocupar os jovens e mantê-los ocupados

- O Fica Vivo não acaba com o tráfico. Mas o tráfico fica menos violento, o uso de armas diminui e a intimidação dos moradores também - diz Cláudio Beato.

NY: menos de 500 mortes

A expectativa da prefeitura de Nova York é a de que este ano, pela primeira vez desde 1961, o número de homicídios na cidade fique abaixo de 500. Dados do Departamento de Polícia da metrópole mostram que, em 1990, com a entrada do crack no mercado de drogas da cidade, houve 2.245 mortes violentas na Big Apple. Em 1993, foram assassinadas 1.927 pessoas. Em 2001, houve 649 homicídios e, ano passado, 572.

Mas as ações voltadas para combater a violência vão além de manter a política de "Tolerância Zero", como nos tempos do prefeito Rudolph Giuliani (1994-2001). Um programa de computador sofisticado - o Compstat - é outra arma de combate aos homicídios. Baseado em dados estatísticos, sociais, raciais e ficha criminal, ele alerta sobre quem pode cometer um assassinato, quando, onde e por que. Uma campanha permanente contra a posse de armas é mais uma frente da prefeitura de Nova York para reduzir a violência.

A queda nas estatísticas de homicídios deve se refletir nas mudanças do desenho do interior dos táxis amarelos de Nova York. A prefeitura pensa em retirar a divisória à prova de balas que, desde 1960, separa motoristas de passageiros. A idéia é que, em vez de plásticos feitos para resistir a balas de revólveres calibre 38, os táxis sejam equipados com monitores de vídeo e leitores de cartões de crédito.