Título: A CADA DIA, 3 POLICIAIS CIVIS E MILITARES DETIDOS
Autor:
Fonte: O Globo, 31/08/2005, Especial, p. 1

Somente neste ano, 103 já foram expulsos por vários tipos de crimes

Extorsão, homicídio, venda de armas para traficantes, envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. Estes são alguns dos crimes que levaram 562 policiais militares e civis à prisão e 103 à expulsão no Estado do Rio, de fevereiro até a semana passada. Outros 271 policiais respondem a processos administrativos disciplinares, que podem levar à exclusão. Em média, três policiais são presos por dia na operação batizada de Navalha na Carne, que tem o objetivo de investigar, prender e expulsar das corporações os policiais que tiverem envolvimento comprovado com criminosos.

Um dos casos mais recentes de prisão aconteceu na semana passada. Um capitão e um cabo da Polícia Militar foram presos acusados de vender armas e proteção a traficantes da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. O esquema foi descoberto depois que uma senhora de 80 anos, moradora de um prédio vizinho à comunidade, filmou por dois anos a ação dos bandidos e usuários de drogas na favela.

- A operação Navalha na Carne é um conceito que está sendo incorporado pelos bons policiais, segundo o qual cabe a eles ajudar a expurgar os falsos colegas, bandidos infiltrados, que desonram a farda e o distintivo - explica o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba.

Para o sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, a criação da Ouvidoria e das Corregedorias de Polícia está começando a apresentar resultados, mas ainda há um longo caminho pela frente.

- É preciso haver medidas punitivas e uma reforma nas leis para diminuir a impunidade, mas também é necessário oferecer incentivos e vantagens para motivar os policiais a serem bons policiais - lembra Misse.

Um problema muito antigo

Já o sociólogo Geraldo Tadeu Monteiro, coordenador do grupo de pesquisa de violência e criminalidade da Uerj, reclama da falta de meios de controle externo da polícia. Ele considera que o policial honesto fica impotente diante do quadro de corrupção porque não consegue intervir nesse sistema. Geraldo lembra que a corrupção existe desde a criação da polícia.

- A polícia sempre foi um agente do poder usado para controlar as classes menos favorecidas. E as classes média e alta pagam um preço por isso, que é a corrupção - afirma Geraldo Tadeu.