Título: `Ele disse que tem carta na manga. Deixa as melhores provas para o fim¿
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Fonte: O Globo, 02/09/2005, O País, p. 4

PTB faz coquetel em homenagem a Jefferson, que prepara defesa teatral

BRASÍLIA. Certo de que sofreria uma grande derrota no Conselho de Ética, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) começou a se preparar para um final teatral na votação de sua cassação no plenário da Câmara. Alternando momentos de euforia, em que gargalhava, e de tristeza, ele participou de um coquetel em sua homenagem, com frios e vinhos, anteontem, com deputados e senadores do PTB. Nas conversas reservadas, revelou que ainda pode provocar estragos e que vai partir para o tudo ou nada na defesa que fará pessoalmente durante a votação do processo no plenário.

Na próxima semana ele volta à Câmara para o corpo-a-corpo. Tem dito que não tem mais nada a perder e que entregará todo mundo que preservou até agora, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).

O clima do coquetel petebista não era de festa e, como relatou um dos participantes, não teve dança nem cantoria. Jefferson fez um breve discurso em que falou de sua estratégia daqui para frente. Um dos presentes disse que ele também prepara uma surpresa sobre os R$4 milhões que admitiu ter recebido do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Jefferson garantiu que terá uma justificativa para se livrar da acusação de ter recebido o dinheiro de caixa dois. Mas não adiantou se aparecerá no plenário com o dinheiro em uma mala para devolver, ou se terá notas para justificar o pagamento de fornecedores.

¿ Ele disse que tem uma carta na manga. Ele, como bom advogado, deixa as melhores provas para o fim ¿ disse o deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP).

Os encontro foi na casa do senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) e discursaram, além do líder José Múcio (PTB-PE), outros seis parlamentares. Todos se solidarizaram e ouviram o réu dizer que tinha consciência do que representava em todo esse processo, mas que não se arrependia nem tinha como voltar atrás. E que repetiria tudo se fosse necessário.

¿ Fomos lá para animá-lo. Todos sabíamos que o resultado seria adverso (no conselho). Ele disse que faria tudo de novo, e que vai entrar e sair do plenário de pé. Ainda tem muita luta pela frente ¿ disse José Múcio.

Num momento de otimismo, disse que o PTB ainda poderia sair bem do episódio.

¿ Fico contente porque nesse vendaval todo, não perdemos um só deputado, acreditaram que eu estava dizendo a verdade. E ainda tenho tempo e espaço para provar muito mais coisas ¿ disse Jefferson.

Nos corredores, boato de que Jefferson fará chantagem

Num momento de indignação, protestou contra o fato de o relator não ter ouvido os outros deputados acusados no processo, apenas Valdemar Costa Neto, cujo depoimento não foi incluído no parecer final.

¿ O único ouvido foi o Valdemar e ele confessou ter mensalão, ao admitir que recebeu R$6,5 milhões do Marcos Valério. Isso é absurdo!

Enquanto Roberto Jefferson não retorna à Câmara, o líder e outros petebistas estão tentando melhorar a situação dele na votação do plenário. Nas abordagens, o discurso é de que, sem Roberto Jefferson, o Brasil continuaria sem saber do que se passava sobre o mensalão e todo o esquema de corrução revelado. Argumentam que há bandidos recebendo prêmios, como a delação premiada, e o deputado que teve a coragem de estourar tudo, de abrir a caixa-preta, não poderia ser punido.

Mas há também, pelos corredores, boatos de que Jefferson vai mesmo é chantagear colegas comprometidos com o suposto esquema do mensalão.