Título: Dirceu reage irritado ao relatório das CPIs
Autor:
Fonte: O Globo, 02/09/2005, O País, p. 10

Sem esconder o nervosismo, o deputado e ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) cobrou provas de que tenha comandado o esquema do mensalão ou participado de qualquer ato de corrupção no governo assim que soube do conteúdo do relatório preliminar das CPIs dos Correios e do Mensalão. Perguntado sobre a convicção política dos integrantes da CPI para recomendar uma punição, enfatizou:

¿ Quando vai começar o fuzilamento? Se você já tem convicção, é um fuzilamento político. Será um julgamento político, mas é preciso ter provas. É preciso ter direito de defesa e que não haja prejulgamento.

O deputado usou a mesma palavra (convicção) citada pelo ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, aos jornalistas anteontem, quando afirmou ter uma ¿convicção não publicável¿ sobre Dirceu.

Sobre a citação de que seu amigo Roberto Marques teria recebido autorização para sacar R$50 mil da conta de uma das empresas de Marcos Valério, Dirceu disse que Marques não era seu assessor. E admitiu pela primeira vez que sabia da contratação de sua ex-mulher Ângela pelo BMG e que sabia do empréstimo de R$2,4 milhões do banco ao PT.

¿ É bom deixar claro que não tive envolvimento nos empréstimos ¿ ressaltou.

Dirceu repetiu que pretende ir ao Supremo Tribunal Federal:

¿ A minha vida é uma vida de quem não tem medo. Não preciso que ninguém me defenda. Eu me defendo sozinho.

Mal começou a leitura do texto, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) reclamou:

¿ Se ele (Serraglio) faz juízo de valor, tem de me ouvir. Tenho direito de fazer minha defesa. Respondi a todas as perguntas que foram feitas por escrito.

João Paulo rebateu o argumento de que foi beneficiado, apesar de ter recebido R$50 mil das contas de Valério:

¿ Para mim, aquilo era dinheiro do PT. Eu não teria mandado um familiar meu pegar o dinheiro se soubesse que era irregular. Não fiz caixa dois.

Mas nem todos criticaram o relatório. Apesar de citado, o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), festejou. Ele crê não haver provas contra ele e espera que o documento vá ao Conselho de Ética em breve.

¿ O relatório é ótimo para mim. Não tem cheque, não tem saque. A única coisa é uma declaração da deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) que o governador Marconi Perillo já tratou de desmentir ¿ disse Mabel.

A estratégia do PFL será defender o mandato do deputado Roberto Brant (PFL-MG) no plenário. Brant foi citado por receber R$102 mil de Valério.

¿ A defesa de Brant está bem posta, correta. Ele indica para onde foi o dinheiro. E não quebrou o decoro porque não mentiu ¿ disse Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL.