Título: Empréstimos para Valério não pagaram mensalão
Autor: Bernardo De la Penha
Fonte: O Globo, 02/09/2005, O País, p. 12

A CPI dos Correios encontrou na contabilidade das empresas de Marcos Valério de Souza indícios de que não há conexão direta entre os empréstimos nos bancos BMG e Rural e os repasses a parlamentares e assessores, feitos supostamente por determinação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Os técnicos descobriram que Valério tinha uma conta específica na agência Assembléia do Rural, em Belo Horizonte, da qual saíram pelo menos R$55 milhões para políticos. Identificadas pelos contadores de Valério como "caixa-cheque-emitido", as operações de saque não têm relação direta com os empréstimos, pelo que apuraram os técnicos da CPI.

Descompasso entre créditos e movimentações

O descompasso entre a movimentação e os créditos deve estar no relatório do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), subrelator responsável por investigar as operações financeiras de Valério.

Segundo ele, Valério recebia os empréstimos nas contas de outras empresas, já que nem todas as operações de crédito foram feitas em nome da SMP&B, mas também pela Graffiti e pela Tolentinos Associados. A conta responsável pelos pagamentos de políticos recebeu depósitos menores do que os valores dos empréstimos.

¿ A confusão é para dificultar o rastreamento. O que alimenta a conta não são depósitos vinculados aos empréstimos. Ele tem uma contabilidade paralela. Já identificamos saques de R$42 milhões, mas a maior parte dos recursos não vem dos empréstimos ¿ afirmou ontem Fruet.

Ontem, a comissão mandou três técnicos ao Banco Rural em Minas para tentar obter documentos que possam ajudar a esclarecer as operações.

Os saques das contas de Valério eram feitos por intermédio de cheques da SMP&B nominais a própria agência que serviam de base para uma autorização de pagamento que era enviada por fax para agência do Rural em Brasília ou mesmo em São Paulo. Com base na autorização, o tesoureiro do banco entregava o dinheiro aos portadores indicados no documento.

Contabilidade é segundo elemento contra versão

Na avaliação de integrantes da CPI, a organização da contabilidade de Valério é o segundo elemento para desmontar a versão apresentada pelo empresário de que simplesmente repassou ao PT recursos tomados emprestados no banco. Os integrantes da CPI já haviam descoberto uma diferença de pelo menos R$2,268 milhões entre o dinheiro que Valério diz ter recebido de empréstimo e o valor repassado por ele.