Título: Morte de Celso Daniel teria custado R$ 1 milhão
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 02/09/2005, O País, p. 15

Integrante da quadrilha presa pelo assassinato do prefeito de Santo André diz a promotores que crime foi encomendado

SÃO PAULO. Em depoimento aos promotores de Santo André que apuram a morte do prefeito petista Celso Daniel, um dos integrantes da quadrilha - que está preso e confessou ter participado do crime, em janeiro de 2002 - disse ontem que o assassinato foi encomendado por R$1 milhão. Com o nome mantido em sigilo, o seqüestrador afirmou ainda que Daniel não foi executado a tiros por um menor de idade do bando, mas por José Edson da Silva, que também está preso.

Ouvido na cadeia, o seqüestrador disse que Edson recebeu ordens para matar o prefeito depois que o chefe da quadrilha, Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, teve um encontro em Campinas, de onde partiu a oferta e a ordem para a execução.

Roberto Wider : "É uma coincidência considerável"

Para os promotores, que já denunciaram o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, como um dos mandantes do crime, é bem possível que um segundo responsável pela morte do prefeito estivesse em Campinas horas antes de Daniel ser executado numa estrada em Juquitiba, na Região Metropolitana de São Paulo.

- Com a confissão, ganha mais relevo saber quem esteve em Campinas no fim de semana do crime - disse ontem o promotor Roberto Wider, que investiga o caso há mais de três anos.

Apontado pela Promotoria Criminal como um dos possíveis envolvidos na morte do prefeito, o empresário Ronan Maria Pinto - denunciado por participar de um esquema de arrecadação de propina supostamente para campanhas eleitorais do PT - estava em Campinas na noite de 18 de janeiro de 2002, quando Celso Daniel foi seqüestrado em São Paulo.

- É uma coincidência considerável - disse Wider.

Ao todo, sete integrantes da quadrilha permanecem presos. O preso ouvido ontem pelos promotores também confessou ter mandado duas cartas (uma para Sombra e outra para o seu advogado, Roberto Podval) para cobrar dívidas que teriam sido assumidas à época do seqüestro.

Na carta, o preso ameaçava revelar detalhes do suposto acordo estabelecido para o assassinato do prefeito, se não fossem cumpridas suas reivindicações. A carta foi entregue no escritório de Podval. Num trecho da carta, o preso escreve: "Que fique bem claro, se eu não tiver a (sua) atenção, a bomba vai explodir".

Legenda da foto: JOÃO FRANCISCO Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André, no depoimento à CPI dos Bingos