Título: RUAS DO MEDO
Autor: Célia Costa/Daniel Engelbrecht
Fonte: O Globo, 02/09/2005, Rio, p. 16

Número de assaltos a transeuntes em julho foi o maior registrado desde 1991

Nunca houve tantos assaltos nas ruas do Rio. A estatística da Secretaria de Segurança divulgada ontem revela que a polícia registrou em julho 3.041 assaltos a transeuntes, uma média de quase cem por dia, o maior número desde 1991, quando os índices de violência começaram a ser monitorados. Em comparação com o mesmo mês do ano passado, houve um aumento de 72,5%. O maior número de casos - que incluem assaltos a pedestres e a motoristas quando o veículo não é roubado - ocorreu na Zona Norte. Na Zona Sul, foram 212 casos. Segundo Leonarda Musumeci, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Candido Mendes, os assaltos a transeuntes são a modalidade de crime com maior índice de subnotificação.

- Pesquisas feitas com vítimas mostraram que uma média de 80% dos casos não é registrada nas delegacias. Na maioria das vezes, isso acontece porque se trata de objetos de pequeno valor e porque as pessoas acham que não haverá resultados. Se a polícia não investiga homicídios, porque apuraria o roubo de uma carteira, por exemplo? - diz Leonarda Musumeci.

A pesquisadora afirmou ainda que esse tipo de delito tem um impacto grande sobre a sensação de insegurança:

- É um crime amplamente cometido e que em princípio atinge todo mundo, até mesmo os pobres.

Maioria dos casos não é registrada

O pesquisador Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, tem opinião semelhante. Segundo ele, 75% dos roubos e 83% dos furtos cometidos contra pedestres não são registrados. Os dados também foram obtidos a partir de pesquisas com vítimas:

- A quantidade de registros é pequena porque as pessoas acham que vão apenas perder tempo indo à delegacia, pois o valor perdido normalmente é baixo e o crime não será investigado. Outras vítimas têm ainda receio da polícia. Ou seja, é a falta de confiança no sistema aliada ao pequeno valor material dos bens subtraídos. Mas isso não é exclusividade do Rio ou do Brasil. Em todo o mundo a subnotificação é alta. A maioria dos crimes não é denunciada - disse Ignacio Cano.

Segundo ele, uma das conseqüências é que a polícia fica sem saber a real dimensão do problema e perde informações sobre onde os crimes são mais praticados, quais os horários e outros dados.

O aposentado Alberto Melo, de 72 anos, foi um dos que não registraram um roubo sofrido na Rua São José, no Centro, há três meses. Um homem esbarrou nele, enquanto um cúmplice meteu a mão em seu bolso, levando R$400.

- Não consegui nem ver direito quem eram os bandidos que me assaltaram - contou a vítima.

Já a fonoaudióloga Fernanda Brito da Silva, de 26 anos, entrará para as estatísticas de agosto, ainda não divulgadas. Ela foi assaltada há duas semanas por um homem numa bicicleta na Avenida Genaro de Carvalho, no Recreio dos Bandeirantes, a poucos metros da Avenida das Américas. O homem, que a ameaçou com um canivete, levou a bolsa com documentos e celular.

- Ele disse que ia me furar e se recusou a deixar os documentos - contou ela na 16ª DP (Barra).

Segundo Cano, o roubo, por ser praticado com emprego de violência, é o crime que mais faz aumentar a sensação de insegurança.

- Faz as pessoas se sentirem vulneráveis e leva inclusive à mudança de hábitos - disse ele.

Entre os outros nove crimes monitorados pela Secretaria de Segurança, também houve aumento, na comparação entre julho deste ano e o mesmo mês de 2004, no número de casos de homicídios dolosos (14,9%), roubos em ônibus (45,8%), latrocínios (de 15 para 22) e seqüestros (dois registros contra nenhum no ano passado). Houve queda em cinco crimes: roubos de carga (23,1%), roubos em estabelecimento comercial (21,4%), assaltos a residência (de 158 para 157), assaltos a banco (de quatro para dois) e roubos e furtos de veículos (3,8%).

INCLUI QUADRO: OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA