Título: TRABALHADOR USA CRÉDITO COM DESCONTO EM FOLHA PARA COMPRA DE ALIMENTOS
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 02/09/2005, Economia, p. 24

Empréstimo chega a comprometer o dobro da renda, diz pesquisa do Ibope

SÃO PAULO. Um dos motores da economia, o crédito consignado (com desconto em folha de pagamento) chega a comprometer o dobro da renda familiar de quem recorre a esse tipo de empréstimo e está sendo usado, em parte, na compra de produtos básicos como alimentos e para quitar dívidas antigas (e com juros mais salgados) no cartão de crédito e no cheque especial.

Este é o resultado de uma pesquisa divulgada ontem pelo banco BMG, que detém uma fatia de 40% desse segmento de crédito no país e está envolvido no escândalo do mensalão, por ter concedido empréstimos ao publicitário Marcos Valério. A sondagem ficou a cargo do Ibope Solution, que entrevistou em agosto 365 pessoas em seis capitais brasileiras. O valor médio dos empréstimos é de R$2.832,90, 103,9% a mais do que a renda média familiar declarada pelos entrevistados (de R$1.389,30). Os prazos oferecidos para pagamento desses empréstimos variam de seis a 36 meses, com juros médios de 1,83%.

Maioria usa dinheiro para quitar dívidas

A pergunta seguinte foi sobre como o dinheiro estava sendo usado pelos entrevistados. Para 46%, ele serviu para o pagamento de dívidas, 24% falaram em reforma da casa e 15% alegaram questões de saúde. O grosso das dívidas é com lojas (principalmente hipermercados e supermercados) e com bancos.

- Essa dívida nos supermercados se refere à compra de alimentos, de produtos básicos - afirmou a diretora de atendimento e planejamento do Ibope Solution, Laure Castelnau.

Lançado no início do ano passado inicialmente para segurados do INSS, o crédito consignado fez o lucro do BMG chegar a R$266,22 milhões no primeiro semestre deste ano, um aumento de 247,7% em relação ao mesmo período de 2004. O balanço do banco registrou em 30 de junho um volume de R$6,5 bilhões em empréstimos com desconto em folha, 90% da carteira total de crédito. O resultado do BMG até agora não foi afetado por seu envolvimento no escândalo.

- Somos um banco especializado no segmento - disse o vice-presidente executivo do BMG, Roberto Rigotto.

Dados do Banco Central indicam, porém, uma desaceleração no ritmo de novas concessões - o que levou alguns analistas a afirmarem que o mercado chegou próximo do seu limite de endividamento. Segundo o BC, o pico das novas concessões aconteceu em abril, com R$105,8 milhões. Esse valor ficou em R$102 milhões em maio, R$99 milhões em junho e R$92 milhões em julho.

Mercado aposta no segmento de empresas privadas

Rigotto afirmou que é natural esperar por uma "acomodação" dos empréstimos voltados para aposentados e pensionistas (que respondem por cerca de metade do total de crédito consignado no país). Segundo ele, a aposta agora dos bancos é no segmento de empresas privadas:

- Acredito que o mercado já atendeu 80% da demanda reprimida que existia antes. Então, é lógico esperar por uma acomodação.

INCLUI QUADRO: O PERFIL DO MERCADO [RENDA FAMILIAR, VALOR DO EMPRÉSTIMO]