Título: VOLUME DE IMPORTAÇÕES SURPREENDE EM AGOSTO
Autor: Cristiane Jungblut/Eliane Oliveira/Janaína Figueir
Fonte: O Globo, 02/09/2005, Economia, p. 25

Compras externas do país chegam a US$7,676 bi e governo interpreta como aquecimento do mercado interno

BRASÍLIA. O aumento significativo dos gastos do país com petróleo e derivados, bens de capital, matérias-primas e bens de consumo fez com que as importações realizadas em agosto crescessem 30% frente ao mesmo mês de 2004. As compras externas somaram US$7,676 bilhões - o valor surpreendeu o próprio governo, que esperava algo em torno de US$7 bilhões. Para o secretário interino de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, o crescimento mostra uma reação positiva do mercado interno.

- A ampliação das compras externas de máquinas, equipamentos e matérias-primas corrobora o crescimento de 1,4% do PIB, divulgado pelo IBGE - disse Meziat.

O fato de as importações ganharem fôlego no mês passado teve como resultado um superávit menor na balança comercial, de US$3,672 bilhões, contra US$5,012 bilhões em julho. Mas as vendas externas, de US$11,348 bilhões, também bateram recorde e o governo já está revendo sua previsão de US$112 bilhões em exportações este ano. Nos últimos 12 meses, as vendas externas chegaram a US$111,206 bilhões.

- A tendência, até o fim do ano, é que as importações cresçam a taxas maiores do que as exportações - afirmou o secretário interino de Comércio Exterior.

Para Lula, país está na rota do crescimento sustentado

A balança comercial brasileira acumula um superávit de US$28,348 bilhões este ano, com US$76,086 bilhões em exportações e US$47,738 bilhões em importações. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou os dados da balança, ao discursar ontem na formatura de novos diplomatas, no Itamaraty:

- Depois de tantos anos de recessão e crescimento medíocre, entramos na rota de crescimento sustentado. Domamos a inflação e nossa vulnerabilidade internacional teve uma redução sem precedentes nas últimas décadas.

Outro que festejou os números foi o presidente do BNDES, Guido Mantega. Segundo ele, a maior parte das importações é voltada para a produção, o que confirma o aquecimento do mercado interno. Mantega ressaltou que, de janeiro a julho deste ano, os desembolsos do banco para o setor industrial aumentaram 38% em relação ao mesmo período de 2004. Somente os empréstimos para aquisição de máquinas e equipamentos subiram 100%. O total de desembolso do BNDES em agosto foi de R$28,6 bilhões.

As importações de combustíveis e lubrificantes cresceram 65% em agosto, devido, principalmente, à elevação do preço do petróleo no mercado internacional. As compras de bens de capital aumentaram 35,2%, de matérias-primas, 18,9% e de bens de consumo, 27,9%.

Argentina preocupa-se com déficit em relação ao Brasil

Nos primeiros oito meses deste ano, a Argentina acumulou déficit de US$2,2 bilhões em sua balança com o Brasil, montante que é 27,6% superior ao déficit registrado pelo país em todo o ano de 2004. A Argentina já acumula 27 meses consecutivos de déficit comercial com o Brasil, e o desequilíbrio entre os dois principais sócios do Mercosul preocupa o governo Néstor Kirchner, que esta semana anunciou a adoção de medidas protecionistas.

COLABORARAM Cristiane Jungblut e Janaína Figueiredo

www.oglobo.com.br/especiais/exterior