Título: EQUILIBRANDO O JOGO
Autor: Ricardo Galhardo, Carolina Brígido e Gerson Camaro
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O País, p. 3

PSDB sai mais forte do segundo turno e se consolida como oposição ao PT

No duelo entre o PT e o PSDB no segundo turno das eleições municipais, os petistas obtiveram maior número de votos nas urnas ¿ 6,9 milhões de votos contra 6,2 milhões para os tucanos ¿ mas perderam poder, porque vão governar cidades menores e mais pobres. No mapa das capitais, o PSDB vai administrar receitas orçamentárias da ordem de R$12,4 bilhões em cinco cidades. Hoje, os tucanos administram três capitais, com receitas de R$1 bilhão. Com as derrotas expressivas em São Paulo e Porto Alegre, o PT deixará de administrar um orçamento de mais de R$15 bilhões e terá em mãos, a partir de janeiro, apenas R$5,2 bilhões nas nove capitais.

O PT, que atualmente governa 21,6 milhões de eleitores, a partir da posse dos prefeitos eleitos terá uma redução de 21%, passando a governar 17 milhões de eleitores. O PSDB saltou de 18,4 milhões para 25,5 milhões de eleitores (39% a mais). Foi decisivo para o crescimento a vitória do tucano José Serra sobre a petista Marta Suplicy em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, com 7,7 milhões de eleitores.

No quadro geral das eleições, o PT elegeu ¿ nos dois turnos ¿ 411 prefeitos contra 187 nas eleições de 2000. O PSDB, 870 contra 990 na eleição passada. Mas, levando-se em conta apenas o desempenho nas capitais, o PT, que comanda hoje 19 milhões de habitantes em oito capitais, administrará no ano que vem 7,9 milhões de pessoas em nove capitais. A maior parte das vitórias do PT está no Norte e no Nordeste. No centro-sul, foram apenas Belo Horizonte e Vitória.

O PSDB passará a administrar 13,9 milhões de habitantes de cinco capitais, contra os atuais 1,6 milhão de três capitais. A vantagem dos tucanos está no tamanho das capitais que governará em janeiro: São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Cuiabá e Teresina.

¿O povo ensina¿, diz Genoino

Mesmo assim, os números deixaram o presidente nacional do PT, José Genoino, otimista.

¿ O partido teve votações consagradoras. Mesmo onde perdemos, tivemos muitos votos.

Segundo Genoino, ¿o povo ensina¿ e o PT vai aproveitar as derrotas em cidades como São Paulo e Porto Alegre, para tirar lições. No primeiro turno, o PT obteve 16,3 milhões de em todo o Brasil. E os tucanos também ficaram com a segunda colocação, com a marca de 15,7 milhões de votos.

Para o cientista político Gaudêncio Torquato (USP) o enfraquecimento do PT nos grandes centros neste segundo turno abriu espaço para o crescimento de uma terceira força no país: a centro-esquerda. Segundo Torquato, a população fez uma opção mais racional. Mostrou insatisfação com o PT, mas preferiu apostar no campo progressista. Para ele, a conseqüência dessa mudança será sentida de imediato no governo Lula.

¿ O Planalto terá mais dificuldade para governar. Antes, os partidos da centro-esquerda só tinham migalhas. Agora, eles somam metade de um pão. O que pode significar que não vai baixar a cabeça para qualquer aceno do governo. Lula vai ter que se desdobrar para garantir a manutenção da aliança para 2006 ¿ analisou Torquato.

O senador Jefferson Peres (PDT-AM) avalia como positivo o fato de o PT não ter saído hegemônico dessas eleições. Segundo o pedetista, houve um salto de qualidade na política brasileira com a derrota do que ele classificou de ¿política do caciquismo¿, representada por forças como o PFL.

¿ Os números mostram um enfraquecimento dos partidos conservadores. É um processo que já estava em marcha. O Brasil passa a ter três forças políticas: o PT no núcleo do governo, o PSDB na oposição mais progressista e a centro-esquerda como um terceiro pólo.