Título: Brasileiros em Nova Orleans pedem socorro
Autor:
Fonte: O Globo, 02/09/2005, O Mundo, p. 28

Jornalista não consegue deixar prédio invadido por saqueadores e economista perambula em busca de abrigo

RIO e CURITIBA. Sem energia elétrica, com a água e a comida no fim e recebendo as notícias somente por um radinho de pilha, a jornalista brasileira Wanda Campos está isolada com o marido, o músico James Moore, no prédio onde moram no Garden District, em Nova Orleans. O edifício de 24 apartamentos foi abandonado pelos outros moradores, mas, sem carro, Wanda tem medo de sair e enfrentar o vandalismo nas ruas. Trancada, ela ouve os saqueadores invadirem outros apartamentos.

- Estou correndo risco de vida. Tenho medo que tentem arrombar a minha porta. Não há comida, não há polícia, não há nada. É uma vergonha. É impossível que os Estados Unidos não tenham militares suficientes para mandar para cá - disse ao GLOBO, por telefone.

Antes de o prédio ser invadido, Wanda ainda tentou buscar ajuda. Viu lojas sendo arrombadas a machadadas, saqueadores levando carrinhos de supermercado carregados dos mais diferentes produtos.

- Não é água, não é comida, é tudo que estão roubando - contou a carioca, que foi morar nos EUA em 1997, voltou ao Brasil há dois anos e retornou ao país há apenas dois meses. - Quero que venham me resgatar, mas só atendem a quem está em áreas inundadas.

Trinta brasileiros estão em área de risco

Situação dramática também vive o economista José Cândido Sampaio de Lacerda Neto. Ele estava hospedado no Hotel Astor Plaza, que foi evacuado. Sem destino, "atravessando águas fétidas e desviando de ratos", ele conseguiu ligar ontem para a família de um telefone público. Com ele estão dois turistas mineiros: Alice Capociango e Erivelton Oliveira Miranda.

- Ele está abandonado na rua. O risco é grande, as pessoas estão roubando comida umas das outras - contou a mulher, Letícia Vandystadt.

O consulado brasileiro em Houston deve enviar um representante a Baton Rouge, capital da Louisiana, para acompanhar a situação de perto. Segundo o consulado, há 30 brasileiros na área atingida pelo furacão na Louisiana. Outros três conseguiram chegar a Houston, entre eles Marcos Frias. Ele resolvera esperar o furacão passar na casa de um amigo, o também brasileiro Gustavo Souza. Mas na quarta-feira, já sem luz e água, saíram em busca de ajuda.

- Saí só com a roupa do corpo. Tivemos sorte porque a gasolina deu para chegar a Baton Rouge, onde conseguimos reabastecer e partir para Houston. Ia começar a trabalhar na segunda-feira - contou o engenheiro naval, que há cinco anos mora em Nova Orleans. - Agora vou ter que começar vida nova.

Brasileiras deixam o Superdome

O consulado montou um plantão no Astrodome, o estádio de Houston que está recebendo milhares de refugiados que estavam abrigados no Superdome, de Nova Orleans. Mas ainda não encontrou nenhum brasileiro.

No Superdome estavam as brasileiras Mônica Vassão, de Curitiba, e Letícia Figueiredo da Silva Campos, de Belo Horizonte, que ontem foram transferidas para um hotel, ainda em Nova Orleans, e que devem ser levadas hoje para Baton Rouge.

- Minha filha vai sair dessa mais fortalecida. Sei que ela não vai desanimar e que é preparada para enfrentar os reveses da vida - declarou Sônia Amaral Figueiredo, mãe de Letícia.

Do Globo Online

Colaborou Helena Celestino, de Nova York

Americanos dão show de solidariedade às vítimas

Bush pede US$10,5 bi ao Congresso

WASHINGTON. Emocionados com o drama dos milhões de compatriotas apanhados pela tragédia na costa do Golfo de México, os americanos estão abrindo a carteira para ajudar as vítimas do Katrina. As agências particulares de assistência recolheram até ontem US$90 milhões.

A Cruz Vermelha sozinha arrecadou mais de US$71 milhões em doações, com mais de cem mil pessoas telefonando na terça-feira, um dia depois de o furacão devastar o litoral sul dos EUA. Já o Exército da Salvação recebeu doações de US$15,5 milhões até ontem.

Os laboratórios farmacêuticos doaram remédios e dinheiro, no valor de US$25 milhões, e as estações de rádio e TV se comprometeram a arrecadar US$100 milhões para as vítimas. A Associação Nacional de Transmissoras marcou o dia 9 de setembro para que as emissoras façam campanhas de arrecadação.

Por sua vez, o governo federal anunciou que o presidente George W. Bush vai pedir ao Congresso US$10,5 bilhões em caráter de emergência para a assistência à região devastada pelo Katrina. O diretor de Orçamento da Casa Branca, Joshua Bolten, disse que quando o governo tiver uma melhor idéia da extensão dos prejuízos, deverá pedir mais verbas ao Congresso.

Ontem, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, decidiu que o país aceitará qualquer oferta de ajuda externa que contribua para aliviar o sofrimento das vítimas.

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