Título: EMOÇÃO E REVOLTA EM BAGDÁ APÓS TRAGÉDIA XIITA
Autor:
Fonte: O Globo, 02/09/2005, O Mundo, p. 31

Governo iraquiano investiga as causas da explosão de pânico que matou quase mil pessoas durante ato religioso

BAGDÁ. Milhares de pessoas se reuniram emocionadas e revoltadas ontem em Bagdá e na cidade sagrada de Najaf para enterrar centenas de xiitas que morreram quarta-feira, quando uma multidão reunida numa comemoração religiosa se assustou com o rumor de um ataque suicida. O pânico gerado pelo boato provocou uma correria e centenas de pessoas morreram pisoteadas, asfixiadas ou afogadas ao caírem de uma ponte no Rio Tigre. Segundo o Ministério do Interior, 965 pessoas morreram e 810 ficaram feridas. Milhares ainda procuravam pelos corpos de parentes espalhados em seis hospitais da capital do Iraque.

O governo anunciou três dias de luto nacional devido à tragédia. Além disso, os parentes das vítimas receberão US$2 mil (R$4.750) por cada familiar morto. Uma investigação para descobrir as causas foi iniciada.

- Isso deixará uma cicatriz em nossas almas e as vítimas serão lembradas junto com aqueles que morreram como resultado de atos terroristas - disse o presidente iraquiano, Jalal Talabani.

Apesar de já descartar que tenha havido algum ataque que tenha provocado o pânico, o governo quer saber se rebeldes sunitas infiltrados iniciaram o rumor de que haveria um ataque de um homem-bomba.

Governo iraquiano enforca três criminosos

Cerca de um milhão de pessoas estavam reunidas para homenagear o sétimo imã xiita Musa al-Kazim - que representa o momento histórico em que os xiitas dos 12, a corrente principal do xiismo, separou-se dos ismaelitas. A mesquita onde está enterrado o imã Kazim fica de um lado do rio. Na outra margem, fica um dos pontos de maior concentração de sunitas da capital e um dos setores com maior número de ataques rebeldes. Porém, aparentemente não havia clima de confronto entre xiitas e sunitas durante a marcha e dezenas de sunitas se atiraram no rio para tentar resgatar crianças, mulheres e idosos xiitas que se afogavam.

A ponte onde a maior parte das vítimas perdeu a vida também será investigada. Segundo testemunhas, o corrimão de um de seus lados cedeu, o que fez com que centenas de pessoas fossem atiradas no Rio Tigre.

Ontem, o governo iraquiano enforcou as três primeiras pessoas desde que a pena de morte foi reinstalada no país. Segundo a porta-voz do governo, Laith Kubba, "foi uma decisão difícil porque vivemos numa atmosfera democrática." Segundo ela, os três homens tinham sido condenados pelo assassinato de policiais, seqüestro e violação. A União Européia criticou a volta da pena de morte no Iraque.

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