Título: Denúncias de cobrança de propina complicam situação de Severino
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Fonte: O Globo, 04/09/2005, O País, p. 4

Empresário diz que pagou a deputado por concessão de restaurante

As denúncias de cobrança de propina de uma empresa concessionária de um dos restaurantes da Câmara dos Deputados complicaram ainda mais a situação do presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). Segundo reportagem publicada pela revista ¿Veja¿ desta semana, Severino, quando primeiro-secretário da Câmara, recebia R$10 mil mensais do empresário Sebastião Augusto Buani, da empresa Buani e Paulicci Ltda., que explora o restaurante Fiorella, no 10º andar da Casa.

O objetivo da propina seria manter a concessão do resraurante ¿ que terminaria em janeiro de 2003. O relato de Buani afirma que, em 2002, ele pagou R$40 mil a Severino e ao deputado Gonaga Patriota (PSB-PE) para prorrogar o prazo. Um ato assinado por Severino e obtido pela ¿Veja¿ prorroga a licença de Buani até 2005. Em 2003, portanto, a concessão foi mantida sem nenhum amparo legal ¿ e, segundo Buani, à base de propina para Severino.

Um relato escrito por Buani, obtido pela ¿Veja¿, detalha os pagamentos mês a mês, com datas e valores. Procurado pela revista, o empresário não quis falar do assunto. Em seu relato, porém, afirma que o primeiro pagamento foi feito no dia 12 de março de 2003, no valor de R$10 mil. Em abril, foi em duas parcelas, nos dias 9 e 16. Os pagamentos ocorreram mensalmente até novembro de 2003. Diz também que os envelopes com dinheiro eram entregues às duas secretárias de Severino ou ao próprio deputado ¿ o que teria acontecido, segundo o empresário, nos dias 11 de setembro, 8 e 16 de outubro.

Em agosto, detalha Buani, faltou dinheiro para completar os R$10 mil acertados, e o pagamento foi de R$6 mil. Severino irritou-se e ligou para Buani para cobrar o que faltava. ¿Levei uma bronca por telefone¿, relata o empresário.

Buani segue o relato afirmando que, pelo menos uma vez, pagou em cheque o cartão de crédito do deputado. Diz que o cheque foi descontado no Bradesco por um dos motoristas de Severino.

Anteontem, em nota, Severino se antecipou à publicação da reportagem e divulgou nota afirmando que Buani está querendo chantageá-lo, porque tem uma dívida com a Câmara que deverá ser executada. Afirma que pode até ter assinado o papel, sem ler. Pediu também ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a abertura de inquérito para apurar o caso. Severino afirma também que o PFL e o PSDB estão tentando derrubá-lo.

Gabeira defende saída de Severino do cargo

O presidente da Câmara tem sido criticado por suas afirmações defendendo pena mais branca para os envolvidos em mensalão e caixa dois. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que defendeu em plenário a saída de Severino da presidência, disse que pedirá ao Conselho de Ética sua saída do cargo para que as denúncias sejam investigadas. Outros parlamentares pediram que o caso seja apurado.