Título: Campo Majoritário monta plano B para eleição
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 04/09/2005, O País, p. 10

Grupo que controla o PT já teme derrota e líderes começam a embarcar nas candidaturas de Pomar e Maria do Rosário

SÃO PAULO. O Campo Majoritário, o aglomerado de correntes que comandou o PT nos últimos dez anos, já tem plano B para o caso de Ricardo Berzoini, o candidato oficial, ser derrotado no primeiro turno do Processo de Eleição Direta (PED), daqui a dois domingos. Diante da possibilidade de vitória do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, com apoio dos radicais, líderes importantes do Campo Majoritário estão embarcando em duas candidaturas alternativas. Pela ordem: Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, e Maria do Rosário, do Movimento PT.

¿ Já tem gente graúda do Campo Majoritário defendendo o voto útil no Valter Pomar para evitar a vitória do Plínio ¿ disse um cardeal petista líder do Campo Majoritário.

Lado mais visível ocorre em São Paulo

O lado mais visível desse movimento ocorre em São Paulo, onde três vereadores da corrente PT de Lutas e de Massas (PTLM) ligados a Jilmar Tatto, ex-supersecretário do governo Marta Suplicy (PT), devem anunciar amanhã apoio à candidatura de Pomar. O PTLM detém cerca de 20% do diretório municipal do PT em São Paulo, o maior do país, e em nível nacional apóia Berzoini.

Além do PTLM, outros cinco vereadores, também ligados a Marta, devem desembarcar da candidatura de Berzoini no decorrer da semana. Eles reclamam por terem sido excluídos do processo de escolha do candidato. Por trás da decisão, está também a disputa entre Marta e o senador Aloizio Mercadante pela vaga do PT na eleição para o governo de São Paulo em 2006. Marta avalia que Berzoini já fechou com o rival.

A adesão de integrantes da corrente dominante às candidaturas de Pomar e Maria do Rosário acontece em várias frentes. O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que teve apoio de José Genoino e José Dirceu na eleição para a presidência da Câmara, está do lado de Pomar.

¿ Tem mais figuras intermediárias do Campo que manifestaram a intenção de me apoiar, mas não querem ter seus nomes revelados para evitar as pressões ¿ disse Pomar.

Ainda esta semana ele deve receber o apoio de pelo menos mais um líder nacional do partido. Embora seja dos mais contundentes críticos da política econômica do governo e das alianças com partidos de direita, Pomar, terceiro vice-presidente do PT, é visto como um ¿homem de partido¿, disciplinado, que dificilmente transformaria o PT em um fator de desestabilização do governo Lula. Para Francisco Rocha, coordenador do Campo Majoritário, o movimento de apoio a Pomar, no entanto, estaria restrito a São Paulo.

A candidatura de Maria do Rosário também tem recebido apoio de pessoas que até o início da crise política estavam com o grupo dominante, como o ex-candidato ao governo do Ceará Zé Airton. O Movimento PT é considerado um grupo moderado no espectro petista.

Sem pesquisas confiáveis, os cardeais petistas ¿contam as garrafas¿, ou seja, fazem cálculos com base nas posições dos líderes. Na contagem, Maria do Rosário está em desvantagem em relação a Pomar.

Para os líderes do Campo Majoritário, o ¿pior dos mundos¿ seria um segundo turno entre Berzoini e Plínio. Os quatro principais candidatos de oposição fecharam um acordo tácito de apoio mútuo no segundo turno, que é dado como certo por todos os setores. Na avaliação do Campo, caso Berzoini chegue ao fim do primeiro turno com menos de 10% de diferença em relação aos demais candidatos, a eleição estará perdida.

O maior temor causado pela possibilidade de Plínio vencer a eleição é o descolamento entre partido e governo, defendido pelo candidato. Mesmo assim, Plínio tem recebido apoios importantes de pessoas ligadas ao Campo, como o senador Eduardo Suplicy, o empresário Oded Grajew, o escritor Frei Betto e o geólogo Aziz Ab¿Saber. Plínio tem forte apoio de dois dos setores mais importantes da base do PT: a Igreja Católica e os movimentos sociais.

Pomar investe no medo que Plínio provoca

Pomar concorda que o temor provocado por Plínio pode lhe garantir mais apoios do Campo Majoritário.

¿ A postura do Plínio frente ao PT pesa, sim, em favor da minha candidatura ¿ diz.

Opinião semelhante tem Romênio Pereira, segundo vice-presidente do PT e líder do Campo Majoritário.

¿ Plínio tem dito que só fica no partido se ganhar o PED e que não sabe se voltaria a apoiar a eleição de Lula. Isso é inaceitável para a militância do PT e leva à busca de outros setores que têm críticas à política econômica, como a gente, mas que também fazem a defesa do governo Lula ¿ diz Romênio.