Título: ARGENTINA ENVIA PROPOSTA SOBRE DÍVIDA AOS EUA
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 01/11/2004, Economia, p. 25

Lavagna afirma que reestruturação do débito de US$81,8 bilhões vai terminar em janeiro do ano que vem

BUENOS AIRES. No próximo dia 29, a Argentina apresentará aos mercados sua oferta de reestruturação da dívida pública envolvida no calote decretado pelo país em dezembro de 2001. A equipe econômica argentina enviou ontem uma proposta definitiva à Comissão de Valores dos EUA, que deverá dar sinal verde ao governo do presidente Néstor Kirchner em até três semanas.

Segundo o ministro da Economia, Roberto Lavagna, o processo de renegociação da dívida será encerrado em 17 de janeiro de 2005. O total da dívida a ser reestruturada soma US$81,8 bilhões.

O envio da proposta aos EUA provocou um clima de otimismo no mercado local. A Bolsa de Valores de Buenos Aires atingiu um novo recorde histórico, fechando em alta de 2,1%.

¿ A proposta é a mesma que divulgamos em junho passado. Não podemos prometer mais do que estamos em condições de pagar ¿ afirmou Lavagna, que explicou detalhes técnicos que tornaram mais atraente a oferta feita aos credores do país.

Governo vai recomprar parte da dívida do país

Um desses detalhes é a decisão do governo de recomprar dívida do país, caso uma parte dos credores não queira participar da renegociação.

¿ Se a adesão à oferta for inferior a 100%, os recursos que seriam utilizados para reestruturar a dívida serão destinados a recomprar bônus antigos e também papéis emitidos no processo de reestruturação ¿ disse o ministro.

Segundo os analistas, a recompra de títulos da dívida tem o objetivo de elevar o valor dos bônus argentinos, sobretudo dos novos papéis que serão emitidos pelo governo.

Os três novos bônus oferecidos pelo governo ¿ Par, Quasi Par e bônus com desconto, que serão trocados por 152 papéis em seis moedas diferentes ¿ terão data de emissão de 31 de dezembro de 2003. Com isso, o governo agrega um pagamento extra de juros acumulados de US$500 milhões. Lavagna assegurou, ainda, que 5% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do estimado serão usados para recomprar bônus no mercado. Outros 5% serão utilizados para realizar pagamentos adicionais aos credores.

¿ Estamos oferecendo o que podemos pagar ¿ enfatizou Lavagna.

O bônus Par, sem redução do principal, terá vencimento em 2038; o Quasi Par, com redução de 30,1%, em 2045; e o bônus com desconto, com redução de 66,3% do principal, vencerá em 2033. Caso a adesão seja superior a 70%, o governo emitirá US$40,8 bilhões. Se for aceita por menos de 70% dos credores, a emissão será de US$38,5 bilhões. O bônus Par é o mais atraente para pequenos credores, já que não tem redução do principal.