Título: CAMPO MAJORITÁRIO CEDE E DIRCEU FICA
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 03/09/2005, O País, p. 9

Ex-ministro diz que não quer cargos. Berzoini consegue manter candidatura

SÃO PAULO. Os petistas envolvidos no escândalo do mensalão conseguiram ontem mais uma sobrevida no partido. Além de não serem submetidos à comissão de ética interna, também poderão continuar na chapa que disputará o comando do PT no próximo dia 18. Em uma longa e tensa reunião, o Campo Majoritário, que domina o PT há dez anos, decidiu ontem liberar o ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu, e os demais parlamentares citados nas CPIs para optarem pela permanência ou não na chapa.

Dirceu bateu o pé na reunião e insistiu em permanecer na chapa. A proposta de votação pela saída ou não dos citados foi rechaçada, segundo o senador Sibá Machado (PT-AC). O deputado Ricardo Berzoini, secretário-geral do partido, conseguiu manter sua candidatura a presidente pelo Campo Majoritário, mas saiu enfraquecido, sem unanimidade em torno de seu nome, a duas semanas do pleito.

Apesar da liberação, cerca de dois terços dos integrantes da corrente pretendiam que Dirceu abrisse mão da disputa. Outro grupo tentou substituir Berzoini por Paulo Frateschi, presidente estadual do PT, ou pelo ex-ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos).

No fim da reunião, foi firmado um acordo. Os envolvidos ficam na chapa, mas não poderão assumir cargos até que sejam inocentados nas investigações do Congresso. Além de Delúbio Soares, cuja expulsão será decidida hoje na reunião do diretório nacional, o PT não deve punir com severidade mais qualquer de seus membros.

A fragilidade da candidatura de Berzoini foi exposta por vários integrantes do Campo Majoritário, que reclamaram de suas posições de críticas à política econômica do governo e da forma como seu nome foi escolhido, sem consulta à maioria dos integrantes. Berzoini teve duas reuniões ontem de manhã com os grupos que não querem sua candidatura e não conseguiu convencer a todos.

- Há uma grande maioria que defende a manutenção da minha candidatura. Até agora, continuo disposto a disputar e vencer - disse Berzoini.

Berzoini preferiu não se manifestar sobre a saída ou não de Dirceu e dos demais parlamentares. Embora mantenha sua posição de que a renúncia facilitará sua eleição, optou pelo silêncio na reunião.

Vários integrantes da corrente majoritária do PT defenderam a saída de Dirceu.

- Precisamos fazer uma renovação profunda no PT - disse o vereador Paulo Teixeira, de São Paulo.

O deputado Paulo Rocha, afastado da liderança na Câmara, disse que a própria comissão de sindicância não poderia recomendar qualquer punição aos citados:

- Submeter os deputados à comissão de ética do partido seria um erro político muito grave.