Título: SECRETÁRIO MANDA PM REFORÇAR PATRULHAMENTO
Autor: Daniel Engelbrecht
Fonte: O Globo, 03/09/2005, Rio, p. 23

Efetivo será acrescido de 300 homens em regiões com maior número de assaltos. Violência muda perfil de turistas

O secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, determinou à Polícia Militar a intensificação do patrulhamento nas áreas em que, segundo o mapeamento da criminalidade feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), houve aumento do número de assaltos a transeuntes. Esse crime, que teve em julho o maior número de casos desde 1991, aumentou em 11 áreas, todas elas na Região Metropolitana. Um dos reflexos do aumento da criminalidade ao longo dos anos é a mudança do perfil dos turistas que visitam a cidade.

O patrulhamento será reforçado com 300 PMs em Rocha Miranda, Méier, Grajaú e Centro, áreas que concentram o maior número de registros de assaltos. Na área do 9º BPM (Rocha Miranda), foram 366 casos em julho.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH), Alfredo Lopes, 70% do turismo na cidade hoje é de negócios e apenas 30%, de lazer. A desordem urbana, na qual ele inclui os assaltos, é um dos motivos principais para a diminuição do número de turistas que procuram o Rio para se divertir. Segundo Alfredo, em condições normais, uma cidade com o potencial turístico do Rio deveria ter 60% de seu turismo voltado para o lazer.

- Nos últimos 15 anos surgiram diversos destinos turísticos no mundo mais seguros que o Rio, como Cancún. O que mais impressiona negativamente o turista são a desordem urbana e os assaltos - disse ele. - Temos hoje basicamente um turismo de negócios, no qual o turista não circula tanto pela cidade.

Viva Rio defende políticas estratégicas contra o crime

Morador da Rua Siqueira Campos, o empresário Antonio Costa, de 54 anos, vice-presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, conhece bem o problema. Na semana passada ele viu quando um grupo de 12 menores tentou assaltar dois turistas estrangeiros e, em seguida, voltou-se contra ele:

- Reagi e eles fugiram. Ainda fiquei observando quando atacaram uma terceira pessoa. Isso acontece a toda hora em Copacabana. As pessoas estão inseguras, deixando de sair de casa. O comércio está vazio, os bares da orla, abandonados.

Rubem César Fernandes, diretor-executivo do Viva Rio, considera preocupante a situação, sobretudo por causa do medo crescente da população:

- Os casos de morte são poucos, mas, por serem divulgados pela mídia, as pessoas acabam se espelhando neles quando sofrem uma violência qualquer. Quem passa por um assalto pensa que escapou por pouco da morte - disse. - O que é preciso são políticas estratégicas de combate à criminalidade.

Para ele, os roubos em coletivos, segundo crime que teve maior aumento em julho (45,8%) em relação ao mesmo período do ano passado, podem ser combatidos com facilidade com o mapeamento das linhas e dos horários críticos.

- Isso já foi feito com bons resultados pela secretaria no ano passado. É como na saúde pública. Quando o mal está crescendo, é preciso cuidar para que não vire epidemia.

O reforço no policiamento anunciado pela Secretaria de Segurança visa também a combater os roubos em coletivos. Segundo Itagiba, esse crime e os assaltos a transeuntes vêm aumentando devido à expansão do consumo de drogas nas áreas carentes:

- Por meio desses dois tipos de crime, em que o miserável rouba o pobre, muitos viciados procuram arrecadar dinheiro rápido para poder sustentar a compra de drogas e sanar suas dívidas com os traficantes.

Segundo o secretário, o aumento dos casos é um problema das grandes metrópoles e decorre também da falta de oportunidades, como emprego e educação.

- As polícias do Rio estão cumprindo a sua parte, tendo prendido 52 mil criminosos nos últimos 36 meses. Mas a enorme tragédia social que assola o país, inclusive com a favelização das grandes cidades, acaba afetando a área de segurança pública, que não lida com as causas dos problemas não solucionados pela sociedade, apenas com as suas conseqüências.

'Nos últimos 15 anos surgiram diversos destinos turísticos no mundo mais seguros que o Rio'

ALFREDO LOPES - Presidente da ABIH

'A enorme tragédia social que assola o país acabaafetando a área de segurança pública'

MARCELO ITAGIBA - Secretário de Segurança