Título: CPI apresenta em 15 dias relatório sobre irregularidades nos Correios
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Fonte: O Globo, 03/09/2005, O País, p. 4

Bastos entrega a Lula resumo das investigações da Polícia Federal

BRASÍLIA. A CPI dos Correios apresentará novo relatório parcial em 15 dias identificando as irregularidades nos contratos dos Correios. O anúncio foi feito ontem pelo relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que acertou com o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), o adiamento do depoimento do ex-ministro Luiz Gushiken, previsto para a próxima terça-feira. A idéia é aproveitar a semana para analisar documentos enviados à CPI.

- Temos de avançar as investigações sobre a parte mais técnica - adiantou Serraglio.

Segundo o relator, há provas de fraudes em licitações, peculato, emissão de notas frias e tráfico de influência na estatal. A comissão deverá criar mais duas sub-relatorias, para investigar denúncias no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e nos fundos de pensão.

- Precisamos de tempo para ajustar os relatórios parciais. Suspendemos as oitivas para organizar dados que faltam. Entramos numa fase importante no que se refere aos fundos de pensão - disse Delcídio.

Segundo ele, a CPI entra agora numa fase mais técnica e menos política na busca da origem dos recursos que abasteceram as contas de Marcos Valério.

Na segunda-feira, os presidentes e relatores das CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos deverão ter a primeira reunião para acertar o calendário de depoimentos. Entre os convocados estão o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, e o doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, que está preso em São Paulo. Só depois disso é que será remarcado o depoimento de Gushiken.

Relatório da PF aponta indícios de corrupção

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, entregou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um relatório com o resumo das investigações da Polícia Federal sobre indícios de corrupção no governo, envolvendo partidos aliados, empresas privadas e públicas. O documento tem informações sobre 13 inquéritos em andamento desde maio, quando foram divulgadas gravações em que o funcionário dos Correios Maurício Marinho aparecia recebendo dinheiro e envolvia o PTB em irregularidades na estatal. A PF pediu nove prisões, mas só prendeu quatro pessoas, liberadas por decisão judicial.

Bastos afirmou que as investigações da PF avançaram bastante e que os envolvidos nas denúncias do mensalão serão punidos oportunamente.

- A Polícia Federal avançou bastante, indiciou, prendeu, pediu prisões e quebras de sigilos, e o trabalho caminha em ritmo adequado. Será um trabalho bem feito - previu.

Bastos explicou que há diferença entre o julgamento político, realizado pelo Congresso de forma mais rápida, e a investigação judicial, que demora mais.

Ontem, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, voltou a criticar a decisão da PF de indiciar assessores de políticos ligados ao mensalão. Para ele, o indiciamento prévio não terá resultado prático na denúncia que será apresentada pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal.

- O indiciamento é absolutamente desnecessário, inócuo - afirmou o procurador.

Jefferson reage

Deputado recorre à CCJ para atrasar votação

BRASÍLIA. Na tentativa de protelar a votação de seu processo de cassação no plenário da Câmara, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) formalizou ontem na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) recurso pedindo o arquivamento do caso. Seus advogados acusam o Conselho de Ética, que aprovou por unanimidade o pedido de cassação, de ter cerceado a defesa e ampliado o objeto da acusação, que era a comprovação ou não do mensalão.

Jefferson teve seu pedido de cassação aprovado por outros motivos, como tráfico de influência em estatais e crime eleitoral ao receber e não declarar dinheiro irregular para campanhas políticas. O relator do recurso na CCJ será o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). Dificilmente Jefferson terá sucesso. A CCJ já julgou, e negou por unanimidade, outro recurso apresentado pelos advogados do petebista.

Legenda da foto: GABEIRA: "A tendência do movimento pela credibilidade do Congresso inevitavelmente será oposicionista"