Título: DELEGADO ADMITE O USO DO TEXTO DENUNCIADO
Autor: Antonio Werneck e Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 04/09/2005, Rio, p. 17

O delegado-titular da Polinter, Luiz Alberto Cunha de Andrade, confirmou ¿ segundo a inspetora Marina Magessi ¿ que presos são obrigados a assinar a declaração responsabilizando-se por sua integridade física ao escolher o xadrez onde vão ficar. Alegou, porém, que não se trata de um documento oficial. Segundo ele, a medida, adotada muitos anos atrás, é uma maneira de a administração se proteger de possíveis policiais corruptos na carceragem da Polinter. Ele também admitiu que o texto é inadequado quando transfere ao preso a responsabilidade que deveria ser do Estado e disse que poderá estudar sua alteração.

Luiz Andrade disse ainda que a mesma situação ocorre em todas prisões do estado e no sistema carcerário, mas alegou desconhecer se há, em outras unidades, carimbos com o mesmo texto para o preso assinar.

¿ O termo é infeliz, mas não quer dizer nada porque não é um documento. Deve ter sido escrito por alguém inabilitado ¿ afirma ele.

O delegado admitiu a possibilidade de carcereiros receberem dinheiro para tirar da cela um preso de uma facção e colocá-lo na de uma rival para ser morto. E lembrou que o mesmo já ocorreu fora da cadeia: policiais militares recebiam dinheiro para prender traficantes de uma facção e entregá-los a bandidos rivais em favelas da cidade:

¿ Assina quem tem facção e quem é traficante. Isso tem em todo o sistema, tem no Brasil todo. É uma maneira de a administração se proteger de possíveis corruptos na carceragem. De nos prevenir de o policial ganhar dinheiro para pegar um preso de uma facção e botar na cela de outra para ele ser morto ¿ disse. ¿ Somos responsáveis por todos os custodiados de nossas delegacias. A gente sabe disso, o Estado sabe disso. Não estamos nos eximindo de culpa. Se o preso fala que é dessa facção ele vai para aquela cela. A gente não escolhe, não é o policial que escolhe a facção que ele vai ficar. É ele, o preso. Isso (o carimbo) é um termo. Ele assume a integridade física dele porque ele quer ficar na cela daquela facção. Isso é um maneira de a administração controlar possíveis corrupções.