Título: A DISPUTA DE EMPRESAS POR UMA FATIA DO PAN
Autor:
Fonte: O Globo, 04/09/2005, Rio, p. 27

Hoteleiros, redes de lojas esportivas e até artesãos que fazem suvenires da cidade já investem no Rio 2007

Os Jogos Pan-Americanos de 2007 ainda estão longe de começar, mas já foi dada a largada para a corrida rumo a um quinhão nos lucros que a competição promete gerar na cidade. No páreo, destacam-se as indústrias hoteleira e esportiva. Só a dos hotéis ¿ que se preparam para receber um fluxo estimado pela Turisrio em 500 mil turistas, principalmente vindos do México para baixo ¿ está sendo incrementada, entre 2002 e 2007, por 17 grandes empreendimentos que somam R$680,4 milhões e vão gerar mais de 17 mil empregos. Mas vários outros setores correm pelas pontas. O dos suvenires, por exemplo, investe na renovação.

¿ Ninguém agüenta mais motivos como Pão de Açúcar, Corcovado e as linhas do calçadão de Copacabana. No setor de jóias, só se vê tucanos de pedras preciosas. Até o Pan, precisamos ter produtos cariocas de bom gosto para turistas ¿ explica Angela Andrade, diretora-executiva da Associação dos Joalheiros do Estado do Rio (Ajorio).

A Ajorio criou o projeto Panorama Carioca ¿ Central de Criação de Objetos para inspirar a confecção de objetos, a princípio de ouro, prata, platina e pedras preciosas naturais, que retratem melhor o Rio. O projeto prevê palestras sobre a história da cidade, passeios ao centro histórico e oficinas de criação e treinamento.

Aumenta a procura por cursos de espanhol

Na competição por um lugar no mercado de trabalho, a procura por cursos como o de espanhol é grande. Segundo o dono da unidade Barra do CCAA, Rodrigo Cordeiro, o número de matriculas dobrou do semestre passado para este:

¿ O espanhol vai ser a língua oficial do evento. E aqui na Barra, não se fala em outra coisa. Enquanto nas outras filiais só 15% dos alunos matriculados são de espanhol, na nossa este número está em torno de 40%.

O Rio-2007 está fazendo despontar na Barra um novo centro hoteleiro. O bairro, que vai receber pelo menos 5 mil jornalistas e 4.500 atletas, está ganhando seis grandes hotéis até 2007. O Meliá Confort Barra, inaugurado em setembro de 2002, custou R$86,4 milhões e tem 432 quartos. No mesmo ano, o Sheraton Barra Suites, um investimento R$73 milhões, passou a oferecer 292 quartos. Em 2005 chegou o Mar da Barra/Windsor, de 345 quartos, a R$79,3 milhões. O governo do estado, em parceria com o governo federal, promoverá, a partir do ano que vem, cursos para capacitar 1.200 taxistas, camareiras, barmen e outros profissionais que lidam diretamente com os turistas.

¿ Também estamos realizando encontros comerciais em países como o México desde o ano passado, para incentivar investimentos ¿ conta o secretário estadual de Turismo, Sérgio Ricardo de Almeida.

O retorno financeiro gerado pela realização de eventos esportivos do porte do Rio-2007 se prolonga por dez anos, de acordo com dados de competições anteriores. Fora o chamado impacto econômico primário da realização dos jogos ¿ que é mensurado levando em conta vendas diretas (direitos de transmissão, bilheteria e patrocínio), a criação de empregos e a melhoria dos sistemas de transporte, segurança e energia ¿ há ainda o chamado impacto secundário. Este mede a mudança de perfil internacional por que passa o país, os novos investimentos gerados e a capacitação da indústria esportiva, por exemplo.

A indústria esportiva, por sinal, também vai de vento em polpa. Que o diga um grupo de empresários do ramo de eletrônicos que está investindo mais de R$10 milhões na abertura de dez lojas de esportes de alto luxo na cidade até 2007. A primeira, Perfit, foi inaugurada em maio no shopping Rio Sul. A próxima, que será a maior loja da Nike do Brasil, será aberta em dois meses no BarraShopping.

¿ Estamos de olho não só nos turistas que a cidade vai receber, mas também no carioca. Pesquisas apontam um crescimento muito acentuado no interesse por equipamentos de lazer, trilhas e academias, como roupas com tecnologia para secagem rápida no corpo. Outro incentivo é que este tipo de roupa virou moda ¿ explica um dos sócios, Sílvio Molossi.

Empresas nacionais e estrangeiras do setor esportivo tiveram na semana passada uma boa oportunidade de dar o pontapé inicial em seus negócios para os Jogos Pan-Americanos: a Rio PanAm Expo 2005 ¿ que inclui o 2º Congresso Pan-Americano de Marketing e Negócios no Esporte e a 2ª Feira Pan-Americana de Esportes e Negócios ¿ reuniu na Marina da Glória cerca de 70 expositores, empenhados em gerar US$100 milhões em novos negócios.

¿ Os 42 comitês olímpicos, demandadores de serviços como hotéis e carros para alugar, puderam entrar em contato com fornecedores em potencial ¿ diz Carlos Roberto Osório, secretário-geral do Comitê Organizador dos Jogos Pan-americanos de 2007.

Até Niterói quer lucrar com Pan-Americano no Rio

O Consulado da França participou com um estande de 200 metros quadrados, o maior da feira, que abrigou 17 empresas de áreas como tecnologia de ponta, telecomunicações e segurança.

¿ Trouxemos empresas como a que vendeu todos os pisos dos ginásios dos Jogos de Santo Domingo e a que forneceu alimentação nas Olimpíadas de Atenas. Queremos mostrar possibilidades. A publicidade para o Rio vai ser fenomenal ¿ conta Chantal Garnier, conselheira da missão econômica do consulado francês. ¿ Nasci numa cidade que sediou as Olimpíadas de Inverno na França, em 1968, e sei que ela não seria o que é sem ter tido esta oportunidade: ganhou estradas, estação de trem, vila olímpica, tudo.

Ao seu lado, estavam empresários como Tsuyoshi Osada, da Irec Ticketing Technology, interessado não só em fornecer seu sistema de bilhetagem para os estádios:

¿ O Rio-2007 é uma vitrine. O lucro não está só nele, mas no que ele pode proporcionar.

Se até a França está na disputa, por que Niterói não estaria? A prefeitura da cidade, através da Secretaria municipal de Esportes, fez-se presente na feira da Marina oferecendo lugar para que as delegações estrangeiras se hospedem e treinem antes de a Vila Pan-Americana ser aberta.