Título: Furacão deixa 200 mil crianças sem aula
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Fonte: O Globo, 04/09/2005, O Mundo, p. 38

Escolas de áreas próximas às regiões devastadas procuram absorver estudantes, muitos deles vivendo em abrigos

BIRMINGHAM, Alabama. Nicholas Brondum chega à escola Trace Crossings, em Birmingham, levando apenas lápis e caderno. Sua família teve que deixar às pressas a casa na cidade de Metairie, Louisiana, e agora está abrigada no Centro de Convenções Jefferson.

¿ Estou contente. Os colegas são boa gente e jogamos muito no pátio ¿ contou Nicholas, de 7 anos.

Pelo menos 271 escolas foram destruídas ou danificadas. Mais de 135 mil estudantes de Lousiana, 40 mil de Mississippi e 35 mil de Alabama ficaram sem casa e sem aula devido à passagem do furacão Katrina pelo Sul dos Estados Unidos. Muitas escolas que permaneceram de pé se transformaram em centro de abrigo para os desalojados. Outras abriram suas portas para alunos como Nicholas, que viviam em regiões devastadas, numa tentativa de que suas vidas retomem a normalidade.

Universidade reduz taxa de matrícula

Michelle, mãe de Nicholas, sente-se reconfortada ao vê-lo ir à aula, enquanto ela busca parentes que possam abrigá-los.

¿ Não sei por quanto tempo ficaremos aqui, mas meu filho não vai ficar trancado vendo notícias do desastre na TV.

O menino não tem livros, mas escolas e igrejas se mobilizam para fornecer material escolar e roupas para os alunos vítimas do furacão. Jo Hollins, diretora da Assistência às Escolas de Birmingham, disse que já foram matriculadas 47 crianças, todas do Centro de Convenções.

O número de estudantes sem escola pode ser ainda maior do que o estimado, já que o Fundo para a Infância e Adolescência das Nações Unidas calculou que um quarto das 1,2 milhão de vítimas é formado por crianças.

A situação não é muito diferente nas universidades na região atingida pelo furacão. Milhares de universitários ficaram sem aula quando o semestre ainda se iniciava. Dezenas de universidades em todo o país se dispuseram a receber esses alunos, e o Departamento federal de Educação deverá ajudar na transferência. Mas alguns estudantes contaram estar tendo dificuldades em encontrar vagas.

Somente na área de Nova Orleans, até cem mil estudantes podem ter sido prejudicados pelo Katrina e mais de 30 faculdades foram seriamente danificadas. Katie Maucher foi caloura por poucas horas na Universidade de Tulane. Ela só teve tempo de conhecer a companheira de quarto, antes de vir a ordem para deixar a cidade.

¿ Sinto-me como se estivesse perdida ¿ conta, já em sua casa, na Carolina do Sul.

O site da universidade avisa que nos próximos dias será informado quando o semestre letivo será retomado, embora o prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, tenha dito que poderá levar dois meses até que a cidade volte a funcionar.

Enquanto algumas universidades informaram que não abrirão exceções, outras estão flexibilizando as regras para receber estudantes matriculados em instituições das áreas atingidas. A Universidade de Arkansas está reduzindo ou abolindo taxa de matrícula, enquanto a Associação Jesuíta está admitindo estudantes vindos de Tulane, da Universidade Loyola e da Universidade de Nova Orleans. A Universidade do Sul do Texas, por sua vez, ofereceu-se para abrigar cursos. Outras estão recebendo em seus alojamentos alunos desabrigados.