Título: CONGRESSO QUER AVALIAR ATUAÇÃO DO GOVERNO
Autor: Bill Torpy
Fonte: O Globo, 05/09/2005, O Mundo, p. 19

Senadora diz que seria capaz de dar um soco no presidente. Protesto reprimido em Nova York

WASHINGTON. O Congresso anunciou que convocará audiências nas próximas semanas para avaliar a resposta do governo ao furacão, sobretudo a desorganização inicial da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema, na sigla em inglês). Os congressistas devem examinar uma série de reportagens publicadas em 2002 pelo jornal ¿The Times-Picayune¿, que alertava para a iminência de uma tragédia como esta.

O presidente George W. Bush vem sendo alvo de críticas cada vez mais severas sobre a atuação do governo. Bush luta para manter o controle da situação, enquanto a água começa a baixar nas cidades mais atingidas e as primeiras estimativas indicam que a tragédia provavelmente matou milhares de pessoas.

A senadora democrata pela Luisiana Mary Landrieu disse ontem que está tão revoltada com as falhas do governo e suas críticas às autoridades locais que se ouvir qualquer nova reclamação contra os esforços regionais, mesmo que seja do presidente, é capaz de ¿dar um soco¿ nele.

O dirigente de um distrito da Louisiana, Aaron Broussard, também se mostrou muito irritado ontem no programa ¿Encontro com a imprensa¿, da emissora de TV NBC, ao contar a história de uma idosa que acabou se afogando enquanto esperava por socorro.

¿ Ninguém vem nos resgatar ¿ afirmou. ¿ O secretário prometeu (resgate). Todos prometeram. Deram entrevistas à imprensa. Estou cheio dessas entrevistas! Pelo amor de Deus, parem de falar e mandem alguém.

Um protesto em Nova York contra a lentidão do socorro às vítimas acabou ontem em pancadaria com a polícia, que interveio e prendeu duas pessoas. A insatisfação popular ficou clara também na primeira grande pesquisa de opinião pública realizada depois da catástrofe. O levantamento da ABC mostrou que menos da metade dos americanos (46%) apóia a forma com que o presidente está lidando com a crise.

Criticado mesmo por correligionários, Bush ordenou o deslocamento de tropas extras à região. Os secretários de Estado, Condoleezza Rice, de Defesa, Donald Rumsfeld e de Saúde, Michael Leavitts, foram enviados à área para coordenar as ações de resgate.

O governo insiste em que a magnitude da tragédia excedeu os limites do previsível. Rumsfeld, repetindo Bush, classificou a passagem do Katrina como ¿um desastre de proporções históricas¿ poucas vezes visto no país. A secretária de Estado, por sua vez, fez questão de frisar que não houve discriminação na hora de socorrer as vítimas.

¿ Ninguém, especialmente o presidente, deixaria gente sem socorro por razões raciais ¿ afirmou Condoleezza, que é negra e ocupa um dos mais altos cargos do governo.