Título: TERCEIRO INCÊNDIO EM DEZ DIAS MATA 15 EM PARIS
Autor: Deborah Berlick
Fonte: O Globo, 05/09/2005, O Mundo, p. 20

Ao contrário dos outros, esse foi criminoso. Três jovens, duas delas moradoras, são acusadas

PARIS. Quinze pessoas morreram, entre elas três crianças, e sete estão em estado grave em razão de mais um incêndio em Paris, o terceiro em dez dias. Desta vez, diferentemente dos anteriores, a origem foi criminosa: três jovens, uma de 16 anos e duas de 18, duas delas, moradoras do edifício, teriam iniciado o fogo nas caixas de correspondência do prédio de 18 andares em L'Hay-les-Roses, na madrugada de domingo.

A série macabra de incêndios em Paris, todos envolvendo pessoas pobres, não pára: em quatro meses, 62 pessoas morreram, quase a metade delas crianças e imigrantes. E as cenas dramáticas se repetem: pessoas em pânico, gritos, intoxicação, crianças mortas. O novo incêndio aconteceu num HML (edifício para pessoas de baixa renda) de 110 apartamentos em bom estado e administrado pela empresa 3F. Várias famílias de origem africana moram lá. Seis das vítimas seriam do Haiti.

Segundo os bombeiros, foi a fumaça, que se propagou rapidamente pelas escadas, que matou as pessoas. Corpos foram achados nos andares mais altos do prédio. A tragédia seria menor se os moradores, em pânico, não tivessem aberto suas portas, facilitando a propagação da fumaça.

¿ As pessoas que ficaram nos seus apartamentos se salvaram. O número de mortos é explicado porque muitas pessoas correram para fora dos apartamentos em direção a temperaturas de 300 graus e muita fumaça ¿ contou o bombeiro Alain Antonini.

Testemunhas descreveram o pânico no prédio:

¿ Fui acordado pelo cheiro da fumaça no meu quarto. Olhei pela janela e vi labaredas de dois a três metros ¿ contou Jean-Luc Quinson.

O Corpo de Bombeiros foi acionado às1h10m, e mobilizou 160 homens, que levaram duas horas para apagar o fogo. Eles salvaram 26 pessoas. Uma mulher grávida acabou parindo dentro da ambulância. Os cerca de 300 moradores do prédio foram levados para um estádio próximo. O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, falou ontem em ¿ato criminoso¿. Já o primeiro-ministro Dominique de Villepin disse que o estado vai apoiar as famílias das vítimas. O presidente Jacques Chirac foi informado por assessores sobre o incêndio, no hospital, onde está internado.

Os bombeiros frisaram, entretanto, que este último incêndio é bem diferente dos dois últimos. Foi provocado por um ato criminoso, enquanto os outros foram causados, essencialmente, pelas péssimas condições dos prédios onde viviam imigrantes ilegais. As três jovens que teriam iniciado o fogo estão detidas para investigação.