Título: Estilhaçado
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 05/09/2005, O Globo, p. 2

Era uma vez um partido que era referência de organização e de ação coletiva. O PT nunca mais será o mesmo e sua reabilitação não se dará a médio prazo. Os petistas estão sendo debulhados pela oposição. Divididos, não esboçam qualquer reação. Ao invés disso, uma ala do partido dá corda à oposição na expectativa de que conseguirá se safar entregando os demais às feras.

A crise está entrando em seu quinto mês e até hoje não foi formada uma coordenação para articular as ações do PT, de sua bancada e do governo Lula. Como diz um petista, ¿em tempos de Murici, cada um cuida de si¿. O PT que está no governo só pensa em como preservar o mandato do presidente Lula. Para isso quer José Dirceu e sua turma fora do PT e não faz qualquer movimento para evitar a cassação de mandatos de petistas por quebra de decoro parlamentar. As tendências que fazem oposição à ala dominante, o Campo Majoritário, só trabalham para tirar dividendos nas eleições internas de 18 de setembro. Até mesmo entre os moderados, há os que querem sacrificar Dirceu e sua turma. Querem abrir caminho para uma refundação democrática do PT. Estão todos caminhando na prancha, um empurrando o outro para a frente da fila.

¿ O governo erra ao entregar braços e pernas. Isso enfraquece o corpo. Desse jeito vamos acabar sem a cabeça ¿ diz o ex-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), um dos que corre o risco de perder seu mandato.

O resultado concreto do acerto de contas petista é o isolamento político do governo Lula. O PTB já abandonou o governo ao ter optado pelo seu presidente licenciado, deputado Roberto Jefferson (RJ). Agora chegou a vez de o PL pular fora do barco, obrigando o vice-presidente José Alencar a deixar o partido. O PP foi alvejado de morte com a denúncia de corrupção envolvendo o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE). O presidente Lula está ficando sem aliados para sustentar seu governo e para disputar a reeleição em 2006. Não fosse o apoio que o PMDB ainda lhe dá, a oposição já teria condições de propor o impedimento do presidente Lula.

Esse isolamento partidário ocorre depois que as pesquisas de intenções de voto mostraram que o favoritismo de Lula acabou. Esse movimento reflete também o crescimento de um sentimento antipetista em segmentos médios do eleitorado. Estão todos se posicionando para pular na cela do primeiro cavalo que tiver expectativa de poder.