Título: Presidente da Câmara ensaia reação e pede sindicância sobre denúncias
Autor: Gerson Camarotti e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 05/09/2005, O País, p. 4

Restaurante envolvido nas denúncias de propina pode perder licença hoje

BRASÍLIA. O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), sentiu o golpe das acusações contra ele. Depois de consultar alguns deputados aliados durante o fim de semana, Severino divulgou ontem nota informando que encaminhou as denúncias ao vice-presidente e corregedor da Câmara, deputado Ciro Nogueira (PP-PI) para examinar o assunto e proferir um parecer. Ciro Nogueira é amigo de Severino.

Severino também determinou ao diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, a criação de uma comissão de sindicância para apurar os fatos. E pretende solicitar ao Tribunal de Contas da União auditoria em todos os contratos da Câmara que envolvam a empresa responsável pelo restaurante da Câmara, de Sebastião Augusto Buani, empresário que estaria por trás das denúncias.

¿Com essas providências, a Presidência da Câmara dos Deputados foi além das possibilidades estritamente regimentais, ao pedir a abertura de inquérito ao senhor ministro da Justiça. Isso demonstra o compromisso com a verdade e a seriedade, na certeza da absoluta inveracidade dos fatos, o que será comprovado ao final das apurações¿, afirmou Severino, em nota.

¿O procedimento desta Presidência em relação às referidas denúncias denotam seu compromisso com a correção e a transparência, comportamento que adota e adotará sempre, em quaisquer casos, em defesa da imagem da instituição¿, concluiu Severino.

Por causa de uma dívida de R$150 mil, o restaurante Fiorella pode perder hoje a concessão. O prazo final para o pagamento da dívida foi sexta-feira. Se hoje a contabilidade da Câmara indicar que não houve pagamento, o restaurante será fechado. A direção da Casa deve determinar um esquema de funcionamento emergencial, provido pelos demais concessionários, depois que Buani desocupar o espaço. Será feita uma nova licitação. O contrato terminaria no dia 14.

Segundo PP, denúncias inviabilizaram acordo

Segundo aliados, a reação de Severino teve o objetivo de barrar a iniciativa da oposição de afastá-lo do cargo. Na cúpula do PP, também acendeu o sinal amarelo. Em conversas telefônicas, Severino avaliou com parlamentares próximos que sua situação ficou delicada. Alguns reconhecem que ele ficou muito exposto ao defender punição leve para os parlamentares acusados da prática de caixa dois, o que enfraqueceu sua posição. A avaliação no núcleo do PP é de que as denúncias colaram em Severino e que, na melhor hipótese, imobilizaram o presidente da Câmara para tentar acordo.

Mas a constatação no núcleo do partido é que, depois das novas denúncias contra Severino, vários parlamentares do PP voltaram para o centro da crise política, a começar pelo líder da bancada, José Janene (PR), o ex-líder, Pedro Henry (MT) e o presidente do partido, Pedro Corrêa (PE).

A principal reação em defesa de Severino partiu do líder José Janene. Ele classificou de ¿golpismo¿ a iniciativa dos partidos de oposição de pedir o afastamento de Severino. Surpreendido pela notícia, ele advertiu que a iniciativa pode gerar um clima de instabilidade no Congresso.

¿ Isso é golpismo. Na nossa democracia, não há lugar para golpe! Para pedir o afastamento de Severino é preciso que haja motivo e provas. Não vamos nos curvar. Isso cria um ambiente muito ruim ¿ avisou Janene, que diz acreditar em uma ¿orquestração¿ contra o PP.