Título: PF INTERROGARÁ DEPUTADO SEMANA QUE VEM
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 06/09/2005, O País, p. 3

Oposição protocola carta pedindo oficialmente afastamento do presidente da Câmara

BRASÍLIA. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), deverá ser interrogado pela Polícia Federal na próxima semana no inquérito que investiga a suposta tentativa de extorsão de dinheiro do deputado pelo empresário Sebastião Augusto Buani, dono da rede de restaurante Fiorella. Severino fez a denúncia contra o empresário na sexta-feira passada, mas as investigações podem se voltar contra o deputado. Reportagens das revistas ¿Época¿ e ¿Veja¿ afirmam que o deputado teria recebido propina de R$10 mil mensais de Buani em troca da permanência de restaurante do empresário na Câmara.

A PF pretendia ouvir Severino ainda esta semana. Mas o deputado confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que estava indo ainda ontem para os Estados Unidos, de onde só deve voltar sábado. Severino é um dos convidados da 2ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamentos na sede da ONU, em Nova York.

Severino fez a denúncia de extorsão contra Buani na semana passada. O empresário estaria fazendo chantagem contra o deputado porque não consegue saldar uma dívida de mais de R$100 mil com a Câmara. Mas, antes da denúncia, o empresário acusou Severino de cobrar R$10 mil por mês para facilitar a permanência do Fiorella no 10º andar do anexo IV da Câmara. O contrato estaria vencido desde 2003, mas teria sido prorrogado indevidamente até agora. A PF deve intimar Buani para depor ainda esta semana.

O delegado Sérgio Menezes foi indicado para cuidar do caso. Ele é ligado à diretoria executiva da Polícia Federal.

Oposição articula pedido de cassação

Diante da resistência de Severino Cavalcanti de se afastar do cargo até que sejam apuradas as denúncias de recebimento de propina do empresário Sebastião Buani, a oposição protocolou ontem em seu gabinete um documento pedindo formalmente seu afastamento. Agora, o próximo passo é recolher mais subsídios para sustentar o pedido de cassação do mandato de Severino, que os líderes de oposição devem encaminhar ao Conselho de Ética da Câmara na próxima semana.

Com o apoio de cinco partidos de oposição ao governo (PSDB, PFL, PDT, PV e PPS), da esquerda do PT e do PMDB não-governista, a liderança da minoria na Câmara formalizou o pedido de afastamento por meio de uma carta.

¿ Sem o afastamento do Severino, as investigações ficam comprometidas. E não há possibilidade de alguém se sentar em cima de uma representação ao Conselho de Ética. As denúncias são graves e, num processo político, com o apoio da sociedade, não há quem segure a vontade da maioria da Casa ¿ disse Aleluia.

¿ É uma opção traumática, mas se ele não se afastar, não temos outra saída ¿ completou o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).

A comissão formada por representantes de PFL, PSDB, PV, PPS e PDT vai fazer investigação paralela à sindicância aberta pelo corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), braço direito de Severino. A oposição também não considera as ponderações do grupo de Severino de que é preciso ter provas contra ele. Com ou sem a cópia do documento que Severino teria assinado, dando ao empresário Sebastião Buani a garantia de exploração do seu restaurante na Câmara por cinco anos, a representação será protocolada no Conselho de Ética.

O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), afirmou que, se confirmadas as denúncias de que Severino recebeu propina, é caso de quebra de decoro parlamentar.

¿ É lastimável que isso tenha ocorrido. Se a denúncia se confirmar, é caso de quebra de decoro parlamentar ¿ disse Izar.

Além da denúncia da propina, outro fato que a oposição considera suficiente para pedir a cassação é o aval dado por Severino à versão montada pelo presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), para justificar o recebimento de recursos das contas de Marcos Valério. A versão de que o dinheiro fora usado para pagar o advogado do deputado Ronivon Santiago (PP-RO), que teve seu mandato cassado mas continua no cargo com o apoio de Severino, foi desmentida no mesmo dia pelo vice-presidente do PP, deputado Ricardo Barros(PR).

Antes de protocolar o documento na presidência, os parlamentares da oposição conversaram por telefone com Severino. No primeiro contato, Aleluia comunicou-lhe o que o grupo pediria. Ele não se abalou e bateu o pé:

¿ Eu recebo vocês, mas aviso desde já que não me afasto ¿ antecipou.

Menos de 15 minutos depois, ele ligou avisando que não mais receberia os parlamentares:

¿ Não posso. Vou ao médico. Mas já tenho uma posição tomada. Podem protocolar o documento lá no meu gabinete.