Título: A HORA TUCANA
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O país, p. 2

No segundo turno, governo e oposição apareceram com mais nitidez para o eleitor que, além de conferir vitórias importantes ao PSDB, impôs derrotas significativas ao PT. Deve-se ver aí também uma mensagem de insatisfação com o governo federal, que deve preocupar os artífices da reeleição de Lula. Houve ainda o forte desejo de renovação, já expresso no primeiro turno.

A vitória do PSDB em São Paulo é um duro golpe para o PT, e a que melhor expressa o novo equilíbrio que agora surge entre as duas forças políticas que saem hegemônicas da eleição municipal. Se o PT levou a melhor no primeiro turno, obtendo a maior votação e a vitória em seis capitais, tais resultados são agora obscurecidos pelo desempenho dos tucanos. Além de São Paulo, eles ganharam em Curitiba e Florianópolis, fincando estacas no coração do Brasil mais rico, urbanizado e politizado, onde o PT sofreu também o revés altamente emblemático de Porto Alegre. Fogaça, do PPS, tem alma tucana e teve o apoio do PSDB. Os tucanos ganharam também em Cuiabá e Teresina.

Não se deve perder de vista o que o PT ganhou no primeiro turno. Agora levou mais três capitais (Fortaleza, Vitória e Porto Velho) e importantes cidades médias e grandes. Nada, entretanto, elide o fato de que a vitória foi menor que o projetado. Nada que reduza o impacto das vitórias tucanas. O PSDB tem agora uma fortaleza em São Paulo, controlando o governo do estado e a prefeitura da capital. Torna-se de fato de uma alternativa de poder, um barco atraente para os partidos auxiliares. Ganhou ainda cidades importantes do interior paulista como Ribeirão Preto, Piracicaba e Sorocaba. O PT ganhou em Campinas, Osasco e outras mas sofreu outro revés em Santos. As vitórias tucanas se tornam mais vistosas quando comparadas às derrotas do PT, que no Rio Grande do Sul perdeu também Caxias e Pelotas. Que no Paraná, além da capital, perdeu Maringá (embora ganhando Londrina). Que em Goiás, além de Goiânia, perdeu Anápolis. Em Minas, o PT teve duas vitórias importantes contra os tucanos, uma em Contagem e outra em Juiz de Fora, mas perdeu em Uberlândia.

Fechado o jogo, começa a corrida para 2006 em relativa situação de equilíbrio, havendo sempre, para o PT e Lula, a vantagem de estar no poder. Mas o resultado passa a exigir do governo um desempenho administrativo muito melhor nos próximos dois anos.

Já não se inscrevem nesta polarização, mas na busca de renovação, a derrota de velhos oligarcas. É o caso da vitória do PDT sobre o candidato carlista em Salvador e o feito de Serafim Corrêa, do PSB, ao derrotar em Manaus o velho manda-chuva Amazonino Mendes. Mas, para confirmar a regra, houve a exceção de Goiânia, onde o velho Iris Rezende ressuscitou vitorioso.