Título: Lula diz que pessimistas caíram do cavalo
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 06/09/2005, O País, p. 10

Presidente critica quem apostou em contaminação da economia pela crise política e sinaliza com queda de juros

SÃO PAULO. Com um discurso otimista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem os que apostaram na contaminação da economia pela crise política. Apoiado pelos números positivos da economia, Lula disse que a inflação está finalmente sob controle e sinalizou com um período de queda nas taxas de juros.

¿ Se alguém achou que poderia fazer conflito político, exagerar mais ou menos, achando que iria acertar a economia e que o país iria sair do trilho, caiu do cavalo, porque a economia está cada vez mais sólida e nós não vamos permitir que a crise política atrapalhe o sonho deste país. A crise pode prejudicar um político, dois, trinta políticos, mas a economia, podem ficar certos que nós iremos enfrentar qualquer situação para não permitir que nosso querido Brasil, sobretudo o povo mais pobre, sofra qualquer retrocesso ¿ disse o presidente na abertura da 39ª Convenção Nacional de Supermercados. ¿ Obviamente que nós entendemos que os juros agora têm que entrar numa rota, eu acho que diferentemente da que fez agora, porque a inflação me parece que está definitivamente controlada.

Ao reiterar que a crise política e a proximidade das eleições não provocarão mudanças na política econômica, Lula disse que perde o voto, mas não perde o controle:

¿ Não tem qualquer problema, perco um voto, perco o amigo, mas não perco a seriedade com que tenho que tratar as questões deste país.

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Carlos de Oliveira, aproveitou a presença de Lula para reclamar da demora nas reformas trabalhista e tributária. O vice-governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), provocou ao dizer que o governo paulista quer isentar o trigo de ICMS, e com isso os supermercados poderão vender mais ¿pizzas reais¿ e o país terá menos ¿pizzas simbólicas¿. Lula disse que a demora na reforma tributária se deve à resistência de governadores que insistem na guerra fiscal.

Política econômica é `ruptura benigna'

Lula classificou a atual política econômica de ¿ruptura benigna¿ (com o modelo tucano):

¿ Cortamos as amarras com uma lógica que, nos anos 90, reservou ao país um déficit em conta corrente da ordem de US$188 bilhões. Uma estabilidade que se apóia em um déficit de US$180 bilhões não pode ser chamada assim. Hoje, o Brasil vive um ciclo de crescimento sem inflação, muito diferente da instabilidade sem crescimento e sem exportações do passado.

Lula desafiou os presentes a apontarem um momento melhor do que o atual nos últimos quatro governos.

¿ Passeata contra o governo, qualquer manifestação, como eu já fiz todas que eu tinha direito, eu aceito que façam todas contra mim também, sem ficar de cara feia. Agora, não podem deixar de reconhecer que o Brasil vive um momento excepcional na sua economia. Talvez não seja tudo aquilo que a gente quer, mas é o máximo que a gente já teve nos últimos anos.

Antes de sair, Lula visitou a feira e ofereceu pedaços de peixe frito aos jornalistas.