Título: PF: MALUF MANDOU US$250 MILHÕES AO EXTERIOR
Autor:
Fonte: O Globo, 06/09/2005, O País, p. 11

Doleiro revela esquema de transferência ilegal de ex-prefeito, que também mandou dinheiro para Duda Mendonça

SÃO PAULO. Em depoimento à Polícia Federal, o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, deu detalhes de operações de transferência de dinheiro para contas no exterior que podem chegar a US$250 milhões em nome dos ex-prefeitos Paulo Maluf (PP) e Celso Pitta (PP) e do filho de Maluf, Flávio. O doleiro, que negociou a redução de pena, disse que, a pedido de Flávio Maluf, transferiu, na campanha de 1998, US$5 milhões para o publicitário Duda Mendonça em uma conta no Citibank em Nova York.

Segundo reportagem exibida ontem no ¿Jornal Nacional¿, interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça demonstram que Maluf e Flávio tentaram impedir que o doleiro contasse aos policiais que as contas no exterior recebiam dinheiro que seria de corrupção nas administrações de Maluf (1993 a 1996) e de Pitta (1997 a 2000).

No depoimento, o doleiro afirmou que Flávio o procurou porque precisava movimentar dinheiro no exterior. Foram abertas três contas no Safra International Bank de Nova York, movimentadas pelo filho de Maluf.

Alves disse ainda que, também a pedido de Flávio, fez depósitos no exterior para Duda Mendonça em 1998 ¿ o publicitário já confessou que, depois de trabalhar para o PT, também recebeu dinheiro de Marcos Valério no exterior.

Nas gravações há uma conversa entre Maluf e um dos seus advogados em que são mencionadas as palavras publicitário, ¿pro¿ e chefão. A investigação concluiu que pro é o delegado Protógenes Queiroz, responsável pelo inquérito, e o chefão que não deixaria o processo seguir adiante, caso o nome de Duda aparecesse, seria o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a quem a Policia Federal está subordinada. Cinco dias depois, o grampo interceptou dois recados que Maluf deixou no celular de Bastos.

Segundo Alves, a conta que recebeu o dinheiro para Duda pertencia a uma empresa chamada Heritage Finance Trust.

Os registros das operações financeiras feitas por Alves conferem com as anotações de um ex-tesoureiro da Construtora Mendes Júnior, uma das empreiteiras acusadas de participar de desvio de dinheiro público nas gestões de Maluf e Pitta. O ex-tesoureiro citou 13 depósitos da empreiteira para a conta Chanani, da família Maluf, totalizando mais de US$10 milhões.

Delegado diz que Pitta e Maluf pilharam prefeitura

O delegado Protógenes Queiroz afirma em seu relatório que Maluf, Flávio e Pitta pilharam a prefeitura paulistana. "Paulo Salim Maluf, Flávio Maluf e Celso Pitta pilharam os cofres públicos da prefeitura municipal de São Paulo por mais de uma década", diz. "A fraude foi imensa e sem precedentes em toda história de ilícitos contra o sistema financeiro nacional", conclui.

A assessoria de Maluf disse ontem que a denúncia é uma cortina de fumaça para esconder o que classificou de "maracutaias de Brasília".