Título: MEDEIROS, ÚLTIMO CHEFE DO SNI NA DITADURA
Autor:
Fonte: O Globo, 06/09/2005, Rio, p. 17

BRASÍLIA. O general Octávio Aguiar de Medeiros foi um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI). Em 1975, durante o governo de Ernesto Geisel, Medeiros foi nomeado para dirigir a Escola Nacional de Informação. Em 1978, o presidente Geisel o nomeou ministro-chefe do SNI, cargo que ocupou até o fim do Governo Figueiredo, em 1985, quando assumiu o primeiro presidente civil, José Sarney.

Apontado como um dos nomes para suceder Figueiredo e gozando de grande prestígio nas Forças Armadas, sua trajetória política foi interrompida por causa dos atentados a bomba no Riocentro e da morte do jornalista Alexandre von Baumgarten.

O Exército comandou, em 1981, a investigação do Riocentro, que não resultou em punições. O também general Golbery do Souto e Silva classificou o SNI de ¿monstrengo¿ por causa do atentado. No ano seguinte, 1982, seu prestígio voltaria a ser abalado por causa da morte de Baumgarten e sua mulher. Antes de sua morte, o jornalista deixou um dossiê acusando o ex-chefe da Agência Central do SNI e comandante Militar do Planalto, general Newton Cruz, de ser o principal interessado em sua morte.

Com a redemocratização, Medeiros foi nomeado para o Comando Militar da Amazônia, quando foi alvejado por nova denúncia. A Arquidiocese de São Paulo, dirigida pelo cardeal dom Paulo Evaristo Arns, publicou em 1985 o trabalho ¿Tortura Nunca Mais¿. Nele, o general foi acusado de ter se beneficiado da tortura em seu trabalho de obter informações contra diversos grupos de esquerda no país. Medeiros foi transferido para a reserva em agosto de 1987 encerrando uma carreira militar que teve início em 1940, quando ingressou na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, onde nasceu em 22 de outubro de 1922.

Homem forte do governo do presidente João Figueiredo, Medeiros voltou ao noticiário no fim da década de 90, quando foi reaberta a investigação sobre o caso do Riocentro. Em 1999, o general, que estava na reserva, foi convocado a prestar depoimento no inquérito que apurou as responsabilidades militares no atentado durante as comemorações do Dia do Trabalhador no Riocentro, durante um show, quando uma bomba explodiu no colo de um sargento do serviço secreto.

Ao prestar depoimento ao general Sérgio Conforto, conforme revelou em 1999 O GLOBO, Medeiros teria admitido que foi informado com antecedência de que haveria uma operação no Riocentro. A informação teria sido repassada pelo general Newton Cruz, subordinado na época a Medeiros. Newton Cruz, mais tarde comandante militar do Planalto, não confirmou a informação. Segundo fontes militares, Medeiros teria dito que na época do atentado não tomou qualquer providência por ter sido tranqüilizado pelo general Cruz. Segundo o relato de Medeiros, os agentes envolvidos teriam sido aconselhados a desistir da operação.

O general Octávio Aguiar de Medeiros morreu ontem de falência múltipla dos órgãos, aos 82 anos, na UTI do Hospital Santa Lúcia, em Brasília. O corpo do general passaria a noite sendo velado no Oratório do Soldado e será enterrado hoje no cemitério Campo da Esperança.