Título: ESTRANGEIROS TAMBÉM RESGATAM NA BOLSA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 06/09/2005, Economia, p. 19

Efeitos do furacão Katrina fazem papéis de empresas brasileiras subirem

RIO e BRASÍLIA. Os estrangeiros também reduziram suas aplicações em bolsa no fim de agosto. O saldo de investimento externo na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que estava positivo em R$558 milhões até o dia 20 de agosto, encerrou o mês negativo em R$120,7 milhões. O volume de compras, no entanto, foi o terceiro maior da história da Bolsa: R$12,2 bilhões. Já o total de vendas foi o segundo maior: R$12,3 bilhões.

Para Gustavo Alcantara, gestor da Mercatto Gestão de Recursos, a retração reflete o agravamento da crise política no fim do mês e também a venda de cerca de R$600 milhões em ações do Itaú no mercado.

¿ Os estrangeiros continuam entrando, mas diminuíram o ritmo ¿ diz Alcantara.

Ontem, o feriado do Dia do Trabalho nos EUA reduziu os negócios no Brasil. O dólar subiu 0,34%, para R$2,339. Os negócios não passaram de US$700 milhões, menos da metade de um dia normal. Na Bolsa, que subiu 0,74%, o volume também caiu à metade: R$738 milhões. Devido ao feriado, não houve negociação com os títulos da dívida externa brasileira.

A tragédia provocada pela passagem do furacão Katrina pelo Sul dos EUA acabou beneficiando um grupo de empresas brasileiras. As ações da Gerdau subiram 3,70%. Investidores acreditam que sua subsidiária nos Estados Unidos, Gerdau Ameristeel, pode ser beneficiada pela demanda por material de construção. As ações já haviam subido 5,44% na última sexta-feira. Já os papéis da Petrobras subiram 1,21%, com os investidores atentos à alta do petróleo.

O Tesouro Nacional deu ontem mais um passo para melhorar o perfil da dívida externa e anunciou que vai recomprar todo o estoque de C-Bond existente no mercado. A operação envolve US$1,1 bilhão e será realizada no próximo dia 17 de outubro. O C-Bond foi um título emitido no chamado ¿Plano Brady¿, em 1994, para a renegociação da dívida externa brasileira e dos demais países que entraram em moratória nos anos 1980.

Na avaliação de técnicos do governo, o C-Bond, além de compor uma dívida de curto prazo com juros altos, é um papel que tem imagem fortemente ligada à moratória. Por isso, a retirada desses títulos do mercado pode fazer com que os investidores vejam o Brasil de forma mais favorável.

No dia 22 de julho, o Tesouro já havia feito uma operação de troca de C-Bond, que chegou a US$4,5 bilhões. Os papéis foram substituídos por um novo bônus global, chamado A-Bond. A operação garantiu o alongamento do prazo de vencimento de 2014 para 2018, o que deu uma folga futura para o caixa do governo. (Patricia Eloy e Martha Beck)