Título: ALCKMIN, FORTALECIDO, DESCONVERSA SOBRE 2006
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O País, p. 8

Governador evita vincular eventual candidatura à Presidência da República à vitória de Serra

SÃO PAULO. Apontado pelos analistas políticos como o tucano mais credenciado para disputar a Presidência da República em 2006, depois do bom desempenho do PSDB nestas eleições, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) evitou ontem vincular a vitória de José Serra em São Paulo com uma eventual candidatura sua à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. O governador deixou claro que considera mais importante o peso do partido, e não só do candidato, em uma disputa desse nível. Negou ter visitado cidades do Norte e Nordeste semana passada para se projetar nacionalmente e criticou os modelos personalistas do janismo, getulismo ou ademarismo ¿ que dão mais destaque a figuras individuais que a projetos partidários.

Dizendo que não quer encurtar artificialmente o calendário eleitoral, o governador comentou, brincando, que ¿tem dois ansiosos na política: político e analista político¿.

¿ Eu acredito em partido político. O Brasil tem uma história de personalismo na política. Mas se você quer um upgrade, uma melhor qualidade da vida pública, é importante você ter partidos com identidade, com fidelidade partidária, com programa partidário. Política, dizia Magalhães Pinto, é como nuvem. Você olhou, está num lugar. Olhou de novo, está em outro. Os laços afetivos são mais sólidos. Eu fiz duas viagens na campanha inteirinha. E foi bom. Eu notei que houve um laço partidário que se fortaleceu. Não com a minha pessoa, mas internamente, no partido.

Na primeira avaliação sobre o desempenho do PSDB, ontem cedo, o governador comemorou o fato de o partido ter se enraizado nos grandes centros urbanos mesmo fora do governo federal, ao contrário do PT, que foi empurrado para o Norte e o Nordeste. Os tucanos ficaram com cinco capitais e 14 grandes cidades, o que, segundo ele, consolidou o equilíbrio de forças entre PT e o PSDB. E alertou os tucanos que estão muito eufóricos com o resultado das eleições para não ficarem de salto alto.

¿ Nós temos o pé no chão. Aprendi que tão importante quanto vencer é usar com moderação a vitória. Com humildade. Política é trabalho, é você ter responsabilidade e trabalhar para a população.

Para Geraldo Alckmin, as vitórias do PSDB têm um peso maior agora, fora do governo, porque mostram a adesão espontânea do eleitorado.

¿ Esse processo foi verdadeiro por ter acontecido com o partido fora do governo. O partido não inchou, e sim, teve um crescimento verdadeiro, o que é muito positivo ¿ disse o governador.

Ele disse que havia na cidade de São Paulo uma disputa entre o PT e Paulo Maluf, e pela primeira vez o PSDB conseguiu vencer essa barreira. Também minimizou a importância de seu apoio para a eleição de Serra.

¿ O fator decisivo numa eleição é o candidato. Serra transmitiu confiança, conhecimento e credibilidade ¿ disse Alckmin, que não quis apontar os erros da prefeita derrotada Marta Suplicy.

Além de fazer dobradinha com Serra, Alckmin também fatura politicamente com a eleição de João Paulo Tavares Papa (PMDB) em Santos, a quem apoiou contra a petista Telma de Souza. Ele chegou a aparecer no programa eleitoral de Papa na TV, prometendo parceria com o governo santista.

¿ O meu partido, o PSDB, apoiou. Santos é uma belíssima cidade. Temos laços sentimentais. É a cidade do Mário Covas ¿ lembrou.