Título: ALIANÇA DE ÚLTIMA HORA EM NITERÓI TAMBÉM FRACASSOU
Autor: Rodrigo França Tavares
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O país, p. 5

Além de perder em Campos, Garotinho foi derrotado nas principais cidades do Grande Rio, ganhando só em Caxias e Meriti

O ex-governador e presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, é o grande derrotado nas eleições no Estado do Rio. A derrota em Campos, cidade onde Garotinho nasceu e se projetou na política, é o maior símbolo da redução do poder de fogo do presidente regional do PMDB. Neste segundo turno, o ex-governador também perdeu em Nova Iguaçu, onde apostou todas as suas fichas na reeleição do prefeito Mario Marques (PMDB) contra Lindberg Farias (PT); e em Niterói, onde fez uma composição política de última hora com o PDT para apoiar João Sampaio e perdeu para o petista Godofredo Pinto.

Antes, o candidato de Garotinho em Niterói, o deputado Moreira Franco (PMDB), tinha desistido de disputar o segundo turno, depois de obter apenas 22% dos votos válidos no primeiro turno.

PMDB venceu em 42 dos 92 municípios do estado

Nem as vitórias de candidatos do PMDB ontem em Duque de Caxias e São João de Meriti servem para diminuir o impacto político da derrota de Garotinho. O PMDB do ex-governador venceu, ao todo, em 42 dos 92 municípios do estado, mas o PFL, que usou o prefeito reeleito Cesar Maia como cabo eleitoral, conta agora com os dois maiores colégios eleitorais: Rio e São Gonçalo, que, juntos, somam mais de cinco milhões de eleitores.

Cesar ainda aumentou seu cacife político ao apoiar no segundo turno os candidatos do PT que derrotaram os preferidos de Garotinho em Niterói e Nova Iguaçu, e ao apoiar o pedetista Carlos Alberto Campista, adversário do candidato de Garotinho, Geraldo Pudim, na disputa eleitoral em Campos. O PFL de Cesar ganhou em outras cinco cidades. Em duas delas ¿ Rio Bonito e Mendes ¿ os atuais prefeitos são do PMDB.

A grande maioria das 42 cidades conquistadas pelo PMDB fica no interior e tem peso político inexpressivo na geografia do voto no estado. Pelo menos metade tem menos de 30 mil habitantes e apenas nove tem mais de cem mil. No primeiro turno ¿ antes da vitória de Washington Reis em Duque de Caxias, maior colégio eleitoral da Baixada, e de Uzias Mocotó em São João de Meriti ¿ o PMDB tinha conseguido em seus 40 municípios menos votos que o PFL em sete cidades. Agora, como Caxias é o maior colégio eleitoral da Baixada com 528 mil eleitores, o PMDB tem o maior número de votos.

Mas PFL e PT conquistaram as prefeituras das cidades estrategicamente mais importantes: Rio, Niterói, São Gonçalo e Nova Iguaçu. Em todas, Garotinho entrou pessoalmente na disputa para evitar a derrota. E o PDT ¿ que chegou a ser cortejado por Garotinho já com vista a uma mudança de partido para as eleições de 2006 ¿ ganhou uma eleição absolutamente polarizada, disputada em clima de guerra, em Campos.

Embora historicamente Campos não tenha muito peso político no Estado do Rio, está carregada de simbologia a derrota de Garotinho em sua terra natal. Além da perda política, o ex-governador sai da eleição de 2004 com sua imagem arranhada por causa do uso explícito da religião no processo eleitoral e das denúncias de uso da máquina do governo do estado durante o processo eleitoral. Geraldo Pudim, candidato derrotado de Garotinho em Campos, pode ter sua candidatura impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral por causa dessas denúncias.

Além dos 42 municípios onde o PMDB venceu, aliados políticos do ex-governador e da governadora Rosinha Matheus conquistaram ainda 16 municípios pequenos do interior: cinco administrados pelo PSC; três pelo PV; seis pelo PP; um pelo PTB e um pelo PL.