Título: DERROTA LEVA PT GAÚCHO A MERGULHAR EM CRISE
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O País, p. 10

Tendência que domina partido sai enfraquecida e pode inviabilizar candidatura de Olívio Dutra ao governo do estado

PORTO ALEGRE. O impacto da derrota ainda não foi todo assimilado e o PT gaúcho já está mergulhado numa profunda crise. Seus principais dirigentes são cautelosos ao falar, mas com a derrota de Raul Pont, em Porto Alegre, e Marisa Formolo, em Caxias do Sul, avaliam que a tendência Democracia Socialista e sua forma de fazer política saem bastante enfraquecidas. Os planos petistas para voltar ao governo do estado em 2006 foram abalados e, sobretudo, a candidatura do ex-governador Olívio Dutra, que era consenso, poderá enfrentar duro processo de questionamento.

¿ Ficou visível na reta final da campanha que a deputada Maria do Rosário seria melhor candidata que o Raul Pont. As pesquisas qualitativas feitas pelo Instituto Vox Populi para a agência Duda mostraram que os eleitores queriam mudança e renovação. O Olívio em 2006 poderá ter o mesmo problema do Raul agora ¿ disse um integrante da coordenação da campanha petista.

O PT gaúcho já chegou às primeiras conclusões. O partido isolado vai ser forte, mas não conseguirá ganhar eleições no segundo turno. Os petistas avaliam também que não devem repetir governos marcados pelo conflito como foi a gestão de Olívio Dutra (1999-2002) e nem permitir que seus quadros interrompam mandatos para disputar eleições, como fez o ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro na disputa para o governo estadual há dois anos. Por fim, os petistas chegaram à conclusão de que não podem mais ignorar recados das urnas como o que ocorreu há dois anos quando venceu o governador Germano Rigotto (PMDB) por apenas três mil votos na capital gaúcha.

¿ São vários os fatores que nos levaram à derrota. Mas a questão central é que nós perdemos o centro. O ex-senador José Fogaça conseguiu deslocar o centro para sua proposta, a exemplo de Rigotto em 2002 ¿ afirmou o deputado estadual Adão Villaverde.

A política de alianças deverá consumir os petistas nos próximos meses. O partido disputou em aliança com o PCdoB, o PL e o PSB, no segundo turno, mas não conseguiu atrair para seu campo o PTB. Aliados de Raul Pont, como o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, dizem que em cada estado os partidos têm suas peculiaridades, rejeitando a crítica de que tenha havido estreiteza política. Mas Fogaça não só conseguiu atrair o PTB, oferecendo a vaga de vice, como assegurou que os trabalhistas abrandassem seu discurso antipetista.

¿ O partido vai passar por uma renovação e ele precisa recuperar aquela parcela da militância que está desencantada e que esperava mais de nós no governo. Precisamos estar muito atentos pois se existe uma polarização PT x PSDB, as eleições mostraram também que há espaço para a construção de uma terceira via ¿ disse o senador Paulo Paim (PT-RS).