Título: PT E PSDB COBIÇAM PREFEITO ELEITO DE SALVADOR
Autor: Liiza Damé
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O País, p. 11

João Henrique Carneiro diz querer reaproximar PDT do Planalto, mas sua saída do partido é dada como certa

BRASÍLIA. Depois de impor ao carlismo sua maior derrota em Salvador, o prefeito eleito João Henrique Carneiro (PDT) transformou-se em alvo de cobiça do PT e do PSDB, com PTB correndo por fora. O novo prefeito nega que vá deixar o PDT neste momento, mas dá a entender que, se não tiver sucesso na articulação para reaproximar o partido do Palácio do Planalto, poderá buscar outra filiação. Nos bastidores, a sua saída da legenda é tida como certa. O argumento é que o PDT é um partido pequeno, sem estrutura e ainda faz oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.

No primeiro turno, a filiação de João Henrique ao PSDB, depois da eleição, era tida como certa. Os tucanos desistiram de lançar candidato próprio em Salvador para apoiar o pedetista, indicando o vice, Marcelo Duarte, e ampliando o seu tempo de televisão. O presidente regional do PSDB, Nestor Duarte, filho do vice, foi o braço direito de João Henrique em toda a campanha.

Para mostrar o prestígio de João Henrique no PSDB, mesmo quando a eleição já estava resolvida a seu favor, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi a Salvador participar da campanha. Além disso, no início da carreira política, João Henrique foi do PSDB. O problema é que o PSDB também faz oposição ao governo Lula.

Aliado no segundo turno, o PT tem um forte atrativo: é o partido do presidente da República, e o prefeito eleito depende de verbas federais para administrar Salvador. A isso soma-se o fato de o líder do PT na Câmara de Vereadores, Sérgio Carneiro, ser irmão do prefeito eleito. Já no PTB , um partido com estrutura nacional, João Henrique seria a principal estrela na Bahia, já que o ex-deputado Benito Gama amargou a quinta colocação nas eleições em Salvador.

Por enquanto, João Henrique fala em continuar no PDT e negociar internamente no partido a liberação dos prefeitos eleitos para apoiarem o governo Lula.

¿ Não, se a gente conseguir essa independência no partido ¿ disse o prefeito eleito, quando indagado sobre a possibilidade de deixar o PDT.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que tem conversado freqüentemente com o prefeito eleito de Salvador e não vê possibilidade de ele sair do partido. Lupi afirmou ainda que é natural a relação institucional dos prefeitos com o governo federal, mas reafirmou a decisão do PDT de não participar do governo Lula:

¿ Nenhum prefeito sobrevive sem uma relação institucional com o governo federal.

O ministro baiano Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), que está negociando a aproximação de João Henrique com Lula, não vê necessidade de o prefeito mudar de partido.

¿ Prefiro bons parceiros em outros partidos do que as seqüelas de uma mudança ¿ argumentou o ministro.