Título: SEGUNDO TURNO VAI PESAR NA REFORMA MINISTERIAL
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O Páis, p. 14

De olho em 2006, Lula deve dar mais visibilidade a Mercadante. PT gaúcho sai enfraquecido

BRASÍLIA. Para dar mais eficiência ao seu governo na segunda metade do seu mandato, de olho no projeto da reeleição em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai começar a cuidar pessoalmente das mudanças que fará em seu Ministério entre dezembro e janeiro. Com o fim das eleições, as próximas semanas serão de muita conversa no Palácio do Planalto. O resultado das urnas de ontem, desfavorável ao PT, exigirá um esforço maior do presidente Lula nas negociações políticas para montar o novo xadrez político da Esplanada dos Ministérios.

A maior dificuldade do presidente será dentro do seu próprio partido. O PT gaúcho, por exemplo, fica enfraquecido depois de perder nas três cidades em que disputou ontem o segundo turno ¿ Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas. Esse grupo dificilmente manterá sua cota de quatro ministros na Esplanada ¿ Tarso Genro (Educação), Miguel Rosseto (Reforma Agrária), Dilma Rousseff (Minas e Energia) e Olívio Dutra (Cidades).

O próprio Lula disse no primeiro semestre que acolheria na sua equipe os perdedores da eleição, mas ultimamente voltou a dizer que não abandonará os amigos. A interlocutores, o presidente tem dito que precisa corrigir erros do governo e que o primeiro escalão sofrerá ajustes para atender aos critérios de competência e eficiência.

Um movimento importante desse jogo de peças deve ser a mudança do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para um ministério de visibilidade na área social. Ele deixaria a liderança do governo para assumir a pasta da Saúde ou do Desenvolvimento Social. Lula quer Mercadante com um projeto administrativo forte para apresentar durante a campanha ao governo de São Paulo, em 2006.

Nos últimos meses, Lula deu sinais explícitos de insatisfação com alguns colaboradores, o que já está sendo avaliado no Palácio do Planalto como pista concreta do que ele deve fazer em dezembro. A saída de Aldo Rebelo da Coordenação Política é dada como certa. Ele poderia ser deslocado para o Ministério da Defesa, já que o ministro da pasta, o diplomata José Viegas, deve ir para uma embaixada na Europa.

Um sinal de que acabará abrigando derrotados é o desejo do presidente de levar para Brasília o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), que perdeu a disputa no Rio de Janeiro e poderá ir para o Ministério do Planejamento. O atual titular da pasta, Guido Mantega, tem uma avaliação sofrível no núcleo do poder.

Patrus Ananias deve ser poupado, mas troca de pasta

Outro ministro que não está bem é Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), principalmente depois das denúncias contra o Bolsa Família. Mas Lula não pode demiti-lo por dois motivos: iria queimar Patrus politicamente, como fez com o então ministro Cristovam Buarque (Educação), e criaria uma rebelião no PT mineiro, que saiu fortalecido com a vitória de Pimentel em Belo Horizonte.

Uma solução seria colocá-lo em outro ministério. O mais provável é uma transferência para o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social, hoje ocupado pelo ministro Jaques Wagner.