Título: POLÊMICA NA ESCOLHA DE CHEFE DA SUPREMA CORTE
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Fonte: O Globo, 06/09/2005, O Mundo, p. 27

Numa ação politicamente ousada, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, indicou ontem para o cargo de presidente da Suprema Corte um juiz que sequer integra o tribunal ainda. Caso John Roberts, de 50 anos, seja aprovado pelo Senado, será o mais novo chefe do Poder Judiciário dos EUA - segundo muitos analistas, o segundo cargo mais importante do país - desde 1801.

Roberts já estava indicado para o principal tribunal do país para ocupar a vaga da juíza Sandra Day O'Connor, que anunciou sua aposentadoria. Mas com a morte, sábado, de William Rehnquist, que presidia a Suprema Corte, Bush elevou as apostas para conseguir a aprovação de Roberts no Congresso.

- O juiz Roberts ganhou a confiança na nação e estou satisfeito de anunciar que o indicarei para ser o 17º presidente da Suprema Corte - anunciou Bush ontem.

Bush lembrou que Roberts trabalhou como assistente de Rehnquist, que foi juiz da Suprema Corte por 33 anos, presidindo a casa pelos últimos 19 anos. Nas décadas que esteve no tribunal, foi sempre considerado um conservador incondicional.

O Partido Republicano elogiou a indicação de Roberts para a presidência da casa.

- Roberts é um dos candidatos mais bem qualificados já indicados - disse o líder republicano no Senado, William H. Frist. - Ele será um excelente presidente. Espero que ele seja confirmado (pelo Senado) antes que a Suprema Corte volte das férias, no dia 3 de outubro.

Mas o anúncio não foi bem recebido pelos democratas.

- Agora que o presidente disse que nomeará o juiz Roberts presidente (caso seja aprovado pela Senado), a decisão é ainda mais importante e a responsabilidade do Senado é muito maior - disse o líder democrata, o senador Harry Reid.

Apesar de não ser uma medida inédita, indicar uma pessoa ao mesmo tempo para a Suprema Corte e para ser o presidente do tribunal não é comum, ainda mais levando-se em consideração a idade de Roberts. Como a vaga tanto a Suprema Corte como a presidência são vitalícias, o indicado poderia ser o principal juiz dos EUA por décadas.

Oposição exige entrega de documentos legais de juiz

Muitos acreditam que Bush quis aproveitar a morte de Rehnquist para acelerar o processo de confirmação de Roberts no Senado, pois há sempre uma tentativa de se evitar que a Suprema Corte funcione sem estar com seus nove integrantes, para evitar empates (a juíza O'Connor concordou em adiar sua aposentadoria).

Nos cálculos da Casa Branca, a aprovação de Roberts, que aparentemente já vencera resistências, poderia ser mais facilmente aceita como um substituto do conservador Rehnquist do que da independente O'Connor. Porém, o tiro pode ter saído pela culatra devido à importância do cargo de presidente.

Os democratas exigem documentos escritos por Roberts no governo Reagan, mas a Casa Branca se nega a entregar.

Legenda da foto: O PRESIDENTE BUSH (à direita) cumprimenta seu indicado para a presidência da Suprema Corte, John Roberts