Título: MÍDIA SE UNE EM CRÍTICAS AO GOVERNO
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Fonte: O Globo, 07/09/2005, O Mundo, p. 29

Jornalistas constrangem Bush e assessores com perguntas sobre reação à tragédia

NOVA YORK. A força do Katrina fez bem à imprensa americana mas arrasou o presidente George W. Bush. As imagens de milhares de pessoas em Nova Orleans esperando por um socorro que não chegava uniu os meios de comunicação, dos mais conservadores aos liberais, numa tempestade de críticas ao governo.

Editoriais do "New York Times" criticaram violentamente a atuação do governo e jornais usavam títulos como "Vergonha americana" ou "Infâmia" para expressar perplexidade. A falta de atenção aos relatórios alertando que a Lousiana não estava preparada para um furacão de grau 5 foi comparada à incapacidade da CIA de detectar os preparativos do 11 de Setembro. Repórteres e âncoras da TV perderam o tom frio e polido com que noticiam fatos chocantes e passaram a perguntas incômodas.

- Presidente, o fato de as forças da Guarda Nacional estarem no Iraque não atrapalhou o resgate das vítimas? - perguntou um repórter a Bush.

Ele não respondeu, fez ar de espanto, mas a cena foi ao ar.

Nos últimos 30 anos apenas cinco acontecimentos mobilizaram tanto a mídia americana: o impeachment de Richard Nixon, o seqüestro de americanos no Irã, o julgamento do impeachment de Bill Clinton, o 11 de Setembro e o início da guerra no Iraque. A fama de independência obtida ao cobrir os três primeiros sucumbiu à onda de patriotismo pós-11 de Setembro.

A tragédia de Nova Orleans marcou uma mudança na atitude da mídia. Bush e assessores, que vinham sendo poupados de perguntas mais embaraçosas, foram bombardeados o tempo todo. No programa "Meet the Press", o jornalista Tim Russel perguntou ao secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff, como Bush pode ter cometido tantos erros. Na Fox News, Chertoff foi bombardeado pelo jornalista Chris Wallace:

- Secretário, como é possível que o senhor não soubesse que milhares continuavam no Superdome sem água, sem comida, sem segurança, sem remédios, quando tudo isto estava sendo exibido pelas redes nacionais?

Reagindo às críticas, Bush pôs assessores para defender o governo em programas de TV, mas a tentativa não deu certo. Durante entrevista do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, a Fox News mostrava chocantes imagens do Superdome. Neste dia, as redes preferiram destacar uma declaração do pastor negro Aaron Broussard, de uma paróquia de Nova Orleans:

- Eles não param de dar entrevistas. Por Deus, calem a boca e mandem ajuda.