Título: Delúbio recebeu pelo menos 144 ligações dos Correios
Autor: Franscisco Leali/Gerson Camarotti/Bernado de
Fonte: O Globo, 07/09/2005, O País, p. 11

Quebra do sigilo telefônico por CPI mostra também que Marcos Valério ligou para 19 ministérios no governo Lula

BRASÍLIA. A CPI dos Correios, que até agora investigava a relação do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares com o valerioduto, deve abrir nova frente de apuração envolvendo o petista. Levantamento preliminar da quebra do sigilo telefônico de pessoas citadas nas investigações detectou que Delúbio recebeu pelo menos 144 ligações dos Correios entre 2003 e 2005 - a maior parte originada da presidência da estatal.

Das ligações, 13 foram depois que surgiu o escândalo dos Correios com a divulgação do recebimento de R$3 mil pelo ex-chefe de departamento da estatal Maurício Marinho. Essas ligações ocorreram entre 16 de maio e 8 de julho deste ano. Ao todo, foram 45 ligações para Delúbio em 2005, 57 telefonemas em 2004 e 42 registros em 2003.

Também já foram encontrados telefonemas de Delúbio para a ECT. Em 23 de abril de 2004, o ex-tesoureiro ligou três vezes para o Departamento de Orçamento e Custos, vinculado à Diretoria Financeira dos Correios. Em 2005, foram registradas outras quatro ligações.

Telefonemas de Delúbio para ramais da Casa Civil

Procurado pelo GLOBO, Delúbio não retornou. A assessoria de imprensa dos Correios confirmou os ramais da presidência da estatal e do Departamento de Orçamento. Mas informou que não comentaria os telefonemas por terem ocorrido na gestão anterior. A presidência dos Correios era ocupada até recentemente pelo ex-deputado João Henrique (PMDB-PI).

A quebra do sigilo telefônico revelou ainda 116 ligações de Delúbio para a Presidência da República, sendo 33 em 2003, 61 em 2004 e 22 em 2005. Várias desses telefonemas foram feitos para ramais da Casa Civil. Pelo menos uma ligação foi registrada depois do surgimento da crise, no dia 23 de junho. A ligação foi para um ramal da Casa Civil onde trabalhava a assessora especial Sandra Cabral.

Os registros telefônicos mostram ainda que Delúbio tinha comunicação freqüente com ministérios. Chama a atenção as 274 ligações de números da Esplanada dos Ministérios para Delúbio em 2004, quase todos do Ministério do Trabalho. Em 2005, foram 130 registros telefônicos. Também neste caso, a maior parte das ligações foi da pasta do Trabalho.

Entre os primeiros números analisados, a CPI dos Correios identificou também telefonemas feitos pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). O relatório parcial mostra que em setembro de 2002 foram dez ligações de números do deputado no Rio para a área comercial do escritório de representação dos Correios em Petrópolis, cidade do parlamentar. A repartição para onde foram feitas as ligações cuida de contratos do escritório local dos Correios.

O relatório mostra ainda que as empresas SMP&B e DNA, de Marcos Valério, fizeram ligações para 19 ministérios de 2003 a junho de 2005, entre eles os da Fazenda, da Justiça, do Desenvolvimento e do Planejamento.

Ligações de números de Jefferson para DRT

O relatório da CPI revela ainda que, entre 2001 e 2005, foram feitas 95 ligações de telefones em nome de Jefferson (PTB-RJ) para órgãos públicos federais no Rio. A grande maioria das ligações é para o escritório da Delegacia Regional do Trabalho, em Petrópolis. Também foram feitas ligações para postos da Polícia Rodoviária Federal na região de Petrópolis. No mesmo período, esses mesmos telefones de órgãos federais fizeram 432 ligações para os números de Jefferson.

Segundo o relatório parcial da CPI, o maior número de ligações dos números de Jefferson aconteceu em anos eleitorais. Em 2001, foram feitas 17 ligações para os órgãos federais; das repartições saíram 22 telefonemas para os mesmos números. Em 2002, ano eleitoral, foram 20 ligações para os órgãos e 59 ligações desses para Jefferson. Em 2004, também ano eleitoral, as ligações dos números de Jefferson chegaram a 32. E as repartições retornaram outras 218 vezes. Procurado, Jefferson avisou por intermédio da assessoria que não falaria.

Legenda da foto: DELÚBIO: conversas com setor de Orçamento e Custos dos Correios