Título: AJUDA CONDICIONADA É ALVO DE CRÍTICAS
Autor: Ronaldo Braga/Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 07/09/2005, Economia, p. 21

ONU diz que auxílio vinculado à compra de produtos prejudica países pobres

RIO e BRASÍLIA. Além de insuficiente, a ajuda internacional para combate à pobreza utiliza critérios que prejudicam seu aproveitamento. O relatório da ONU critica duramente a "ajuda condicionada" ao comércio: os países ricos transferem recursos às nações pobres, mas essas, em contrapartida, precisam comprar bens e serviços dos doadores, a preços muitas vezes acima dos fixados pelo mercado. O relatório estima que essa espécie de venda casada de solidariedade resulte num prejuízo entre US$5 bilhões e US$7 bilhões aos países pobres.

A ONU conclama os países ricos a eliminarem a "ajuda condicionada" entre 2006 e 2008. De cada US$1 doado pela Itália à Etiópia, por exemplo, 14 centavos voltam às mãos de empresas italianas por meio da venda de produtos e serviços.

O relatório destaca que a maioria dos países ricos não está cumprindo a meta de destinar 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para a ajuda internacional. Os EUA, país mais rico do mundo, elevaram ligeiramente o nível de ajuda, de 0,10% do PIB em 2000 para 0,16% em 2004. Mas 40% desses recursos vão para o Iraque.

Ricos crescem e doação cai. ONU liga violência à pobreza

De 1990 a 2003, a renda per capita nos países ricos aumentou em US$6.070. Enquanto isso, o volume de doações internacionais desses países caiu U$1 per capita.

O representante interino do Pnud no Brasil, Lucien Muñoz, destacou que, sem a cooperação internacional, o mundo não cumprirá suas metas de desenvolvimento (as chamadas Metas do Milênio) até 2015:

- São três pilares que devem ser seguidos: aumento da ajuda dos países desenvolvidos, bases mais justas para o comércio e redução dos conflitos violentos - disse.

Pobreza e violência estão intimamente ligados. O relatório estima que países com renda per capita média de US$250 têm duas vezes mais chances de entrar numa guerra civil do que aqueles com renda de US$600. (L.R. e E.V.)